MOTE – Da tua mão um dedinho
GLOSA
O escuro véu do pejo
Ata, prende a minha língua,
Sinto-me morrer à míngua
Por não cumprir um desejo,
Anarda, quanto em ti vejo
Me embebeda que nem vinho,
E se por tanto carinho
Teus mimos não sei ganhar,
Deixa-me ao menos beijar
Da tua mão um dedinho.
MOTE – Sem falar mudo de cor
GLOSA
Os agrados e o desdém
Desta senhora são tais,
Que fazem morrer os ais
Dentro de quem lhe quer bem.
Meus olhos às vezes vêem
Nos seus um sinal de amor,
Mas eu que tenho o temor
De me enganar no que vejo,
Revestindo-me de pejo,
Sem falar mudo de cor.
Thomás da Soledade1 , In “Antigualhas”2 ,
Horta, Boletim do Núcleo Cultural da Horta, (vol. 2, nº 3), 1961.
2Transcrito de «O Grémio Literário, do nº 7 de 15-8-1880 ao nº 39 de 1-2-1882.