SONHO DE ILHÉU
Sonho de ilhéu
É vôo de gaivota
Entre o mar e o céu.
E há sempre um navio
Saindo da bruma…
Esperanças que sobem
Nas ondas que morrem
Desfeitas em espuma.
E há sempre um navio
Saindo da bruma…
Há oiro e há sangue
Lá longe no mar.
O sol das Américas!
Oiro dos Brasis!
Há fogo no mar!
É o sol no poente.
(Minha mãe:
Ao notar estas linhas estou doente…)
É sangue!
É sangue de ilhéus!
É sangue!
Oiro dos Brasis!
É o sol no poente.
E há sempre um navio
Saindo da bruma…
Não são… Não são nuvens…
São casas, figuras,
Lisboa, Paris,
Cidades, o Mundo!…
Não são… Não são nuvens…
São casas, figuras,
São homens, além.
E há sempre um navio
Que vai ou que vem.
Há sempre um navio
Saindo a baía…
Luzes no escuro
Que traçam a rota
da nostalgia.
Há sempre um navio
Saindo da baía
E fica na noite
Um estranho mistério,
Um fluído de amor
Pairando no ar.
Donde é que ele virá?
Da terra ou das flores
Dormindo em redor?
Ou filtro que escorre
Da lua p’r’o mar?
É o sonho,
O sonho do ilhéu,
Que fica suspenso
Entre o mar e o céu.
Bernardete Falcão,
in O mar é que teve a culpa,
Funchal, Eco do Funchal, 1961.