MOTE e GLOSA
Tyrannos ferros quebrei
No Templo da Liberdade,
N’huma masmorra me achei,
A cruéis supplícios dado,
No instante em que denodado
Tyrannos ferros quebrei.
Em vão submisso invoquei
As leis da humanidade,
Nunca pôde a san verdade
Arrancar-me da prizão…
Achar-me desejo em vão
No Templo da Liberdade.
AO MESMO – GLOSA
«Minha Patria libertei
(Dizia Bruto esforçado);
Na san Virtude escorado,
Tyrannos ferros quebrei.
Lição dos Despotas dei,
Dei triunfos á Verdade,
Destruí a crueldade
De hum throno em crimes famoso,
Hoje tenho assento honroso
No Templo da Liberdade.
AO MESMO – OUTRA
Apenas eu meditei
Nos crimes da Tyrannia,
A Rousseau tendo por guia,
Tyrannos ferros quebrei.
A minha Patria deixei
Com lustros cinco d’idade,
Aqui nesta soledade
A Minerva incensos dou…
Ás vezes cuido que estou
No Templo da Liberdade.
Bento Viana,
In Poesias,
Paris, Oficina F. Didot, 1821.
Viana, Bento Luís (1794-1823) poeta, natural da hoje cidade de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, viveu em Paris tendo frequentado o curso de Medicina e em Londres onde provavelmente veio a falecer.