O livro “Açores no Mundo” é o resultado das visitas que o José Andrade fez às casas dos Açores espalhadas pelo mundo?
Este livro é resultado de uma atenção especial que procuro dedicar às Casas dos Açores, enquanto entidades representativas da identidade açoriana num mundo multicultural, e, sobretudo, da imensa admiração que sempre sinto face ao esforço colectivo da nossa afirmação identitária nas diferentes sociedades de acolhimento.
Desde logo, ele decorre, de facto, das repetidas visitas que tenho realizado nos últimos anos, por iniciativa pessoal ou em representação institucional, às Casas dos Açores implantadas no continente português, no Canadá, nos Estados Unidos da América, no Brasil, no Uruguai.
Mas ele resulta também da ligação que mantive com a diáspora açoriana em sucessivas funções desenvolvidas no Município de Ponta Delgada, no Governo Regional ou no Parlamento dos Açores.
Enquanto assessor do Presidente do Governo Regional dos Açores, participei no encerramento das comemorações dos 250 anos da colonização açoriana do Sul do Brasil, nas cidades de Florianópolis e Porto Alegre, em 1996.
Enquanto chefe de gabinete da presidência da Câmara Municipal de Ponta Delgada e, depois, Vereador da Cultura e Ação Social, ajudei a organizar os processos de geminação da cidade de Ponta Delgada com Florianópolis (Santa Catarina) e Newport (Rhode Island), em 2003, e participei na arrancada do processo de construção da réplica monumental das Portas da Cidade de Ponta Delgada em Fall River (Massachusetts). E, como presidente da Comissão Municipal de Toponímia de Ponta Delgada, propus os topónimos locais “Rua Cidade de Fall River” (1998), “Rua Cidade de San Leandro” (2000), “Rua Cidade de Newport” (2003), “Rua Cidade de Toronto” (2003), “Rua Cidade de Florianópolis” (2003), “Rua Cidade de Porto Alegre” (2003) e “Alameda das Comunidades Açorianas” (2008).
Enquanto deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, acompanhei os assuntos parlamentares das Comunidades Açorianas, a par da Cultura e da Comunicação Social, e participei nas três últimas assembleias gerais do Conselho Mundial das Casas dos Açores realizadas em Hilmar (Califórnia) em 2014, Montreal (Quebeque) em 2015 e Flores e Corvo (Açores) em 2016.
Recordo também uma palestra sobre “A importância das Casas dos Açores na eterna saudade do imigrante” proferida na XVII Semana Cultural da Casa dos Açores do Ontário, em Toronto, em 2014, e uma conferência sobre “Tradições culturais nas ‘dez’ ilhas açorianas”, realizada em Florianópolis, em 2015, a convite do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e da Academia Catarinense de Letras.
Acresce ainda que tenho a honra de ser Membro Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e sócio da Associação dos Emigrantes Açorianos.
Foi, afinal, o somatório destas experiências marcantes que demonstrou a necessidade e determinou a vontade de reunir num livro único a informação dispersa sobre o passado e o presente de todas as 15 Casas dos Açores, prestando assim uma merecida homenagem à própria diáspora açoriana.
O que foi que mais o marcou no contacto com esta realidade açórica na diáspora?
A força da açorianidade que vence a Geografia e vinga na História.
Quanto mais longe nos encontramos dos Açores e quanto mais antigas são as raízes açóricas das diferentes comunidades, mais nos marca o orgulho do sangue açoriano e a perseverança das nossas tradições.
É admirável constatar que os emigrantes nascidos nos Açores preservam apaixonadamente a sua identidade cultural no Ontário ou no Québec, na Califórnia ou na Nova Inglaterra, no Rio de Janeiro ou em São Paulo.
É impressionante perceber que os longínquos descendentes dos povoadores açorianos recuperam orgulhosamente a sua herança cultural em Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul. Mas é inacreditável sentir que uma nova geração de uruguaios, remotamente originária dos descendentes de açorianos que atravessaram a fronteira do antigo Brasil para o atual Uruguai, assume empenhadamente a sua herança identitária como “Los Azorenos” da Casa dos Açores na cidade de San Carlos.
A paixão açoriana que os nossos descendentes de décima geração vivem no norte do Uruguai ou no sul do Brasil é uma lição de açorianismo para quem vive nestas ilhas. Geralmente só damos valor ao que temos depois de perder…
O que diz o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no prefácio do livro?
O Senhor Presidente da República honra-me muito com o seu Prefácio neste livro e, mais do que isso, reconhece e valoriza a importância dos Açores no Mundo. O seu texto é tão sucinto quanto pertinente.
Reconhece “três méritos inquestionáveis” na publicação deste livro. O primeiro “é ajudar a conhecer melhor a projeção no mundo desse verdadeiro paraíso terreno que são os Açores”.
O segundo “é homenagear a saga dos açorianos por todo o mundo, embaixadores notáveis que são da sua terra amada e de Portugal”.
O terceiro é um elogio ao autor, surpreendente e generoso, que me abstenho de reproduzir aqui.
Mas permito-me referir igualmente dois outros textos notáveis que encerram o livro, sob a forma de testemunho vivencial, da autoria dos primeiros presidentes do Governo dos Açores, João Bosco Mota Amaral e Carlos César.
O Presidente Mota Amaral considera que “as comunidades açorianas espalhadas pelo Mundo, sem ignorar as que se encontram noutras parcelas de Portugal, são uma prova concludente da identidade do povo açoriano, razão da sua dignidade e do respeito por isso merecido”.
O Presidente Carlos César acrescenta que “por intermédio das Casas dos Açores e por outras formas e organizações é, no entanto, fundamental envolver uma interação que se deseja exponenciada, numa formulação mais consistente, convocando, em ambos os lados, mais jovens, empresários, académicos, criadores, gente influente e prestigiada”.
Este livro é ainda enriquecido por outras importantes mensagens institucionais, designadamente, do atual Presidente do Governo dos Açores, do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e dos Embaixadores do Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Reino Unido e Uruguai acreditados em Lisboa.
O potencial da nossa diáspora tem sido aproveitado pelos Açores ou considera que a nossa região devia ter mais atenção no relacionamento, atraindo outras gerações, os seus conhecimentos e investimento?
Quanto mais conheço a diáspora açoriana, mais concluo que ali radica um potencial estratégico que ainda não está suficientemente aproveitado pela nossa Região.
As comunidades açorianas assumem, desde sempre, reconhecida importância de carácter sócio-cultural, mas, sem descurar este aspecto estruturante, devem também desenvolver um desígnio estratégico de interesse económico.
Por exemplo, na Califórnia, em Silicon Valley, reside uma nova geração de emigrantes açorianos que se encontra plenamente integrada no “admirável mundo novo” das novas tecnologias de informação e que se manifesta disponível para colaborar na afirmação tecnológica dos Açores.
O mesmo se aplica, por maioria de razão, na costa leste dos Estados Unidos ou na província canadiana do Ontário, onde residem mais açorianos do que nas próprias ilhas, ampliando assim o mercado de escoamento dos produtos açorianos, inclusive de carácter turístico, não apenas para as nossas comunidades, mas também, através delas, para as respectivas sociedades de acolhimento.
Este livro vai ser apresentado também na diáspora?
Este livro, editado pela Letras Lavadas, tem um primeiro lançamento nacional na Casa dos Açores em Lisboa, já na Segunda-feira, 27 de Março, assinalando assim o dia próprio do 90º aniversário da fundação desta mais antiga instituição açoriana no exterior.
Contamos depois realizar um lançamento regional em Ponta Delgada, certamente ainda neste primeiro semestre, provavelmente no âmbito das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que sempre atraem muitos dos nossos irmãos emigrados.
Mas este livro comemora também o 20º aniversário do Conselho Mundial das Casas dos Açores, constituído em 1997, dedicando-lhe a sua terceira parte, depois da “Emigração Açoriana” e das “Casas dos Açores”. Por isso seria pertinente e oportuno apresentá-lo igualmente na próxima Assembleia Geral do CMCA, que reunirá no outono em Toronto os presidentes de todas as Casas.
Além disso, já comecei a receber honrosos convites de diferentes Casas dos Açores para proceder à apresentação deste livro no âmbito das suas Semanas Culturais, a que muito gostaria de poder corresponder, se tiver disponibilidade e apoio.
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NOTA:Reproduzido no Comunidades com a autorização do Diáro dos Açores.