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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de João Leal  – O Culto do Divino: Migrações e transformações
Comunidades 14 jul, 2017, 14:45

João Leal – O Culto do Divino: Migrações e transformações

"O livro tem um ponto de vista simultaneamente antropológico e histórico. O argumento principal desenvolvido ao longo do texto é o de que as festas do Divino são fundamentais na produção de conexões dos homens e das mulheres com os deuses e dos homens e das mulheres entre si. Para algum senso comum, a festa é vista como algo de ornamental e até mesmo de supérfluo. Este livro argumenta o contrário: que as festas do Espírito Santo (ou festas do Divino, como são denominadas no Brasil) são instrumentos rituais fundamentais para a construção de vários tipos de conexões envolvendo deuses, homens e mulheres. As festas são "festa", mas são também esse trabalho - festivo - de produção simultânea do religioso e do social. O livro de João Leal analisa as diferentes expressões desse trabalho".


Apresentação 

     As festas do Divino Espírito Santo têm uma presença muito relevante em espaços de língua portuguesa. Para além de Portugal Continental e dos Açores, existem festas no Brasil (designadamente nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Bahia e Maranhão) e entre as comunidades imigrantes de origem açoriana na América do Norte (nos EUA, no Canadá, no Havai e na Bermuda). Existem também referências mais pontuais à realização de festas na Madeira, em Cabo Verde e em Angola. Em Portugal Continental, estão identificadas mais de 100 festas para o período que vai do século xiv ao século xxi. Mas o seu número foi provavelmente bem maior. Nos Açores realizam-se todos os anos pelo menos 400 festas. E, na América do Norte, o número de festas é de cerca de 290. Apenas para o Brasil não é possível alcançar números seguros, mas, quando estes existem — como no Maranhão (mais de 200 festas) e em Santa Catarina (60 festas) —, indicam a importância das festas do Divino (como aí são designadas) na geografia cultural brasileira. Por detrás desta distribuição das festas do Espírito Santo — que faz delas a mais importante festa de origem portuguesa fora de Portugal —, encontra-se um conjunto de viagens que se estendem desde o século xiv até à atualidade, por intermédio das quais as festas chegaram a geografias cada mais alargadas.
     Nestes vários contextos, embora apresentando perfis diferenciados, as festas mantêm um forte «ar de família». O Espírito Santo é geralmente representado por uma coroa encimada por uma pomba, e as festas caracterizam-se, em consequência, pelo 12 o culto do divino recurso a terminologias e rituais inspirados na linguagem do poder. Entre estes destaca-se a coroação, que consiste na imposição da coroa ao principal organizador da festa ou a uma criança e/ou adolescente por ele escolhido. Para além de outras cerimónias religiosas — novenas, terços, procissões, cantos de louvação ao Divino tocados por folias —, as festas são marcadas pela oferenda de dádivas e contradádivas de alimentos especialmente preparados para a ocasião. Representando um gasto elevado e estando associadas a uma estética por vezes exuberante, as festas do Espírito Santo são, na esmagadora maioria dos contextos em que se realizam, não uma festa qualquer, mas a principal festa e a que junta mais pessoas.
     Vindo na sequência de dois livros anteriores — um sobre as festas do Espírito Santo nos Açores (Leal 1994), outro que incluía informação mais tangencial sobre as festas na Nova Inglaterra (EUA) e em Santa Catarina (Brasil) (Leal 2011a) —, este volume tem três objetivos principais.
     Procura, antes de mais, fornecer uma visão de conjunto das festas do Espírito Santo em Portugal, no Brasil e na América do Norte, tanto sob um ponto de vista histórico como sob um ponto de vista etnográfico. Até este momento, a bibliografia disponível sobre as festas, embora extensa, tem-se baseado maioritariamente na metodologia do estudo de caso. Neste livro procura-se fornecer uma perspetiva mais geral das festas e da sua distribuição ao longo do tempo e do espaço.
     Em segundo lugar, o livro procura ampliar a descrição e a análise mais argumentada das festas para duas áreas onde a sua difusão é particularmente expressiva: a América do Norte (incluindo o Canadá) e, no Brasil, São Luís (capital do estado do Maranhão), cidade onde todos os anos têm lugar cerca de 80 festas. A par dos Açores, estas são duas áreas onde as festas têm uma expressão particularmente significativa e que justificam por isso uma análise mais desenvolvida. O facto de as festas do Divino em São Luís terem lugar em terreiros de tambor de mina — a religião afro-brasileira predominante na cidade — e articularem o culto ao Divino com o culto a entidades religiosas afro-brasileiras foi um motivo suplementar para o destaque dado a estas festas. apresentação 13
     Finalmente, o livro visa construir em torno das festas do Espírito Santo um argumento interpretativo que expande em novas direções linhas de análise anteriormente ensaiadas. Esse argumento sublinha a importância das festas do Divino no fabrico de conexões dos homens e das mulheres com os deuses e dos homens e das mulheres entre si. Para algum senso comum, a festa é vista como algo de ornamental e mesmo de supérfluo. Este livro argumenta o contrário: que as festas do Espírito Santo (ou festas do Divino) são tecnologias rituais determinantes para a construção de vários tipos de conexões envolvendo deuses, homens e mulheres. As festas são «festa», mas são também esse trabalho — festivo — de fabrico simultâneo do religioso e do social. Neste sentido, este livro é tanto sobre as festas do Espírito Santo como sobre os modos de produção simultâneos da religião e da vida social, sendo marcado pela importância de alguns temas analíticos principais, que apresento adiante.
     O percurso que o livro propõe inicia-se com uma perspetiva de conjunto das festas do Espírito Santo (capítulo 1). Centra-se depois nos Açores, misturando camponeses que não emigraram e emigrantes que regressaram para fazer as festas (capítulo 2). Acompanha os processos religiosos e sociais associados à recria- ção das festas na América do Norte, com particular destaque para a Nova Inglaterra, nos EUA, e para Toronto, no Canadá (capítulos 3 a 5). Regressa de novo aos Açores, não só explorando só composições rituais influenciadas pelo trânsito transnacional das festas no Atlântico Norte (capítulo 6), mas trabalhando também ideias sobre património e identidade construídas em torno das festas por elites intelectuais e/ou políticas (capí- tulo 7). Termina no Brasil, em São Luís, onde as festas do Divino se cruzam e articulam com religiões de matriz africana e com grupos afrodescendentes (capítulos 8 a 11).
     Em cada um destes contextos é possível encontrar não só composições rituais distintas, mas também diferentes grupos sociais investidos nas festas — camponeses, e/imigrantes, elites eclesiásticas, intelectuais e políticos, grupos afrodescendentes — e diferentes modos de fabricação do social e do religioso. Ideias sobre transnacionalidade e etnicidade — e também sobre 14 o culto do divino hibridização de formas culturais — serão decisivas para a exploração das viagens das festas do Espírito Santo entre os Açores e a América do Norte. Debates sobre objetificação cultural e património cultural imaterial serão centrais na análise das ideias sobre património e identidade que rodeiam as festas nos Açores e na diáspora açoriana. Em São Luís, o percurso proposto dará relevo a discussões sobre modos de articulação entre tradições religiosas distintas — as festas do Divino e a religião afro-brasileira do tambor de mina — usualmente colocadas sob o signo do sincretismo. No final do livro, olhando para o caminho percorrido, regresso ao argumento da importância da festa na fabricação do religioso e do social, nas diversas formas que esta toma nos contextos sucessivamente analisados.
     O percurso seguido — Açores, América do Norte, São Luís — reproduz o itinerário da minha própria pesquisa. Esta, nos Açores, decorreu nos anos oitenta do século xx, num total de cerca de dois anos de trabalho de campo, e foi retomada de forma mais pontual em 1995, 2011 e 2013. Na América do Norte, a pesquisa realizou-se em 2000 e 2001 (Nova Inglaterra), num total de seis meses, e em 2008 (Toronto), num total de quatro meses. Beneficia também da investigação conduzida em conjunto com vária(o)s colegas no âmbito do projeto «Ritual, etnicidade, transnacionalismo: as festas do Espírito Santo na América do Norte», que decorreu entre 2010 e 2014 e permitiu realizar um levantamento exaustivo das festas na Nova Inglaterra e no Canadá. A pesquisa em São Luís decorreu entre 2010 e 2014, num total de nove meses de trabalho de campo.
     O livro caracteriza-se por alguma agilidade formal na sua composição. Assim, o capítulo 1, sobre as viagens das festas do Espírito Santo, pode ser visto — recorrendo a uma linguagem cinematográfica — como um longo plano-sequência que acompanha os percursos das festas do século xiv à atualidade. Os capítulos 2 a 7, consagrados às viagens recentes das festas no Atlântico Norte, propõem um conjunto de planos médios que vão explorando sucessivas composições e significados das festas nos Açores e na América do Norte. Finalmente, os capítulos 8 a 11 podem ser vistos como um demorado close up sobre as apresentação 15 festas do Divino em São Luís e os seus modos de articulação com o tambor de mina. Embora a maior parte do livro esteja escrita em português «de Portugal», os capítulos consagrados às festas do Divino em São Luís «saíram» com um ligeiro sotaque de português «do Brasil». Afinal de contas, foi falando esse português «abrasileirado» que conduzi a pesquisa em São Luís.
——————————————–
Índice

APRESENTAÇÃO .

A CIRCULAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

Capítulo 1 – Viagens do Espírito Santo: tempos, mapas, transformações
Festas do Espírito Santo: um retrato de grupo
Narrativas de origem
Viagens de proximidade
Escalas atlânticas
Passagem para o Brasil
Viagens norte-americanas
Outras viagens
A cada canto seu Espírito Santo .

VIAGENS NA AMÉRICA DO NORTE
  
Capítulo 2 – Festas do Espírito Santo, emigração, transnacionalismo
Os impérios e a emigração
A transnacionalização dos impérios
Transnacionalismo religioso
As expressões sociais do transnacionalismo
O fim do transnacionalismo .

Capítulo 3 – As festas na América do Norte: identidades e sociabilidades
Festas e etnicidade
Um império americano: etnografia dos impérios de East Providence
Religião e identidades
Contextos sociais da etnicidade
O grupo étnico como comunidade imaginada
Conclusões

Capítulo 4 – Religião e etnicidade em Toronto: controvérsias sobre o Espírito Santo
A Igreja e o Espírito Santo
A Irmandade do Imigrante em Louvor do Divino Espírito Santo
Clubes e festas
Quem define e como é definida a etnicidade?
Religião e etnicidade

Capítulo 5 – Queens, parades, mayors: transformações das festas
Mudanças, subtrações, adições, sínteses
Rainhas e queens
Autenticidade e inovação: fronteiras
Transformações e resistências
Identidades hifenizadas

Capítulo 6 – Viagens de regresso: as festas do Espírito Santo como remessas culturais
As festas das rainhas
A difusão das rainhas: cópias e resistências
O património das rainhas
Bumerangue cultural
Uma comunidade transnacional
Prosperidade imigrante e festas em San Diego
Conclusões

IDENTIFICAÇÕES DE UMA FESTA

Capítulo 7 – Região e diáspora: etnografia e política
Festas, cultura, identidade
Objetificação etnográfica e objetificação política
Dos impérios açorianos à vinha do Pico: regresso à UNESCO
Religião, política, cultura: as festas como tradição inventada As festas e a quase-nação açoriana transnacional

O DIVINO NOS TRÓPICOS

Capítulo 8 – O Espírito Santo entre os voduns: história e etnografia
Narrativas de origem
do Divino: uma apresentação geral
O script das festas
Festas e terreiros

Capítulo 9 – A festa maior dos terreiros
O terreiro e a festa
Promessas e pessoas de simpatia
«Uma festa para todo mundo»
A morfologia social das festas
Religião e cultura

Capítulo 10 – Mina e divino: modos de articulação
Devoção católica e obrigação da mina
As cores da festa
Promessas e entidades
As entidades na festa do Divino
O mastro: estrutura e antiestrutura
O Divino na mina
Muitos modos de articulação
As caixeiras e as entidades

Capítulo 11 – Como as festas chegaram na mina
«Múltiplas divindades»
As razões da história, as razões do presente
Múltiplas causalidades
E o sincretismo?
Conclusões

CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE TEMÁTICO
ÍNDICE ONOMÁSTICO
ÍNDICE GEOGRÁFICO .


João Leal
é Professor Catedrático de Antropologia na FCSH (UNL) e investigador do CRIA, Centro em Rede de Antropologia (FCSH-UNL,ISCTE-UL, UCoimbra, UMinho). Foi Professor Convidado na Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) (2001) e na Universidade Federal do Maranhão (Brasil) (2014). Membro do Conselho Nacional de Cultura – Secção de Museus, da Conservação e do Património Imaterial (Ministério da Cultura). Principais temas de investigação: história da antropologia em Portugal, identidade nacional, cultura popular, festas do Espírito Santo.
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