Decorria o dia 17 de Julho do ano do Senhor de 1832 e Leonardo, terceirense e
octogenário, sentado a uma mesa de um botequim da Rua da Sé, assim falou de forma exaltada e
enraivecida:
– As freiras tomaram todas as liberdades permittidas pela Carta, retouçando-se como
cabras entre os fenos. A Carta decretou a libertinagem! Falo das freiras constitucionaes, como as
do Convento de Santo André de Vila Franca do Campo, que até oferecem moios de trigo e mandam
felicitações à pedreirada! Ah! Bom arrocho! Que corsárias! Fóra desavergonhadas!… Como
amante desta terra deploro os seus desvarios; agora abraçou a causa de um Príncipe brasileiro
expulso, como outrora abraçara a do Prior do Crato, bastardo ambicioso, de patriotismo equívoco,
e que em testamento instituiu o Rei de França herdeiro do throno de Portugal.
cabras entre os fenos. A Carta decretou a libertinagem! Falo das freiras constitucionaes, como as
do Convento de Santo André de Vila Franca do Campo, que até oferecem moios de trigo e mandam
felicitações à pedreirada! Ah! Bom arrocho! Que corsárias! Fóra desavergonhadas!… Como
amante desta terra deploro os seus desvarios; agora abraçou a causa de um Príncipe brasileiro
expulso, como outrora abraçara a do Prior do Crato, bastardo ambicioso, de patriotismo equívoco,
e que em testamento instituiu o Rei de França herdeiro do throno de Portugal.
Este Leonardo não ficou para a História, mas Ferreira Deusdado, no seu livro Quadros
Açóricos (Angra do Heroísmo, Imprensa Municipal, 1907) e no capítulo “O miguelista Leonardo e o
Imperador”, dá-lhe voz e protagonismo.
Açóricos (Angra do Heroísmo, Imprensa Municipal, 1907) e no capítulo “O miguelista Leonardo e o
Imperador”, dá-lhe voz e protagonismo.
Filho de um pedreiro e de uma fidalga, Leonardo era um feroz miguelista e, como tal,
nutria um ódio profundo a tudo o que fosse constitucional e liberal. Ficaram famosas as suas
“palestras” nos botequins angrenses, ele que também desprezava e vilipendiava frades e freiras,
tendo sido, segundo Ferreira Deusdado, um dos primeiros cidadãos a denunciar os derriços das
freiras do Convento de São Gonçalo de Angra com oficiais de D. Pedro IV durante os dois anos de
presença das suas forças na ilha Terceira (1830-1832). Derriços esses que durante muito tempo
fizeram parte do imaginário terceirense. Aludia-se, então, entre outros, aos amores do Imperador
com uma freira terceirense de quem teve um filho chamado Pedro.
nutria um ódio profundo a tudo o que fosse constitucional e liberal. Ficaram famosas as suas
“palestras” nos botequins angrenses, ele que também desprezava e vilipendiava frades e freiras,
tendo sido, segundo Ferreira Deusdado, um dos primeiros cidadãos a denunciar os derriços das
freiras do Convento de São Gonçalo de Angra com oficiais de D. Pedro IV durante os dois anos de
presença das suas forças na ilha Terceira (1830-1832). Derriços esses que durante muito tempo
fizeram parte do imaginário terceirense. Aludia-se, então, entre outros, aos amores do Imperador
com uma freira terceirense de quem teve um filho chamado Pedro.
A freira tinha então 23 anos de idade, chamava-se Ana Augusta Peregrino Faleiro Toste e
pertencia à Ordem das Clarissas do Convento da Esperança, em Angra (e cujos vestígios ainda
existem nas casas 144 a 156 da Rua da Sé). Nascida em 1809 na vila de São Sebastião e falecida,
com 87 anos de idade, em Angra no ano de 1896, nunca lhe foi anulado o voto e recebeu
mensalmente até à morte a prestação de egressa, 15$000 reis. D. Pedro conheceu-a aquando de
uma visita ao referido Convento, numa altura em que ela era sineira do mesmo. O Imperador
regressara de véspera da ilha do Faial, onde fora inspecionar o arsenal de Santa Cruz na vila da
Horta, tendo em vista a expedição de Mindelo, e, convidado pelo morgado José Francisco da Terra
Brum, participara num baile oferecido pelo mesmo na sua residência.
pertencia à Ordem das Clarissas do Convento da Esperança, em Angra (e cujos vestígios ainda
existem nas casas 144 a 156 da Rua da Sé). Nascida em 1809 na vila de São Sebastião e falecida,
com 87 anos de idade, em Angra no ano de 1896, nunca lhe foi anulado o voto e recebeu
mensalmente até à morte a prestação de egressa, 15$000 reis. D. Pedro conheceu-a aquando de
uma visita ao referido Convento, numa altura em que ela era sineira do mesmo. O Imperador
regressara de véspera da ilha do Faial, onde fora inspecionar o arsenal de Santa Cruz na vila da
Horta, tendo em vista a expedição de Mindelo, e, convidado pelo morgado José Francisco da Terra
Brum, participara num baile oferecido pelo mesmo na sua residência.
Fruto das relações do Imperador com a freira, exposto e baptizado, Pedrinho (como ficou
popularmente conhecido) viria a falecer precocemente com 4 ou 5 anos de idade, tendo sido
enterrado no “Sítio”, nas traseiras da Sé. Segundo Ferreira Deusdado, “o partido constitucional
fez-lhe um grande e luzido enterro, tocando a marcha fúnebre a charanga do batalhão de
voluntários da Rainha D. Maria II, do qual era coronel o Visconde de Bruges. O funeral saiu da rua
de Jesus, nº 87. (…) A criança fora entregue aos cuidados do criado íntimo de um alto valido do
Imperador, o engenheiro Luís da Silva Moutinho de Albuquerque, secretário da regência na
Terceira, depois ministro do Imperador regente”, acabando os seus dias como proprietário de uma
tipografia e de uma papelaria em Angra.
popularmente conhecido) viria a falecer precocemente com 4 ou 5 anos de idade, tendo sido
enterrado no “Sítio”, nas traseiras da Sé. Segundo Ferreira Deusdado, “o partido constitucional
fez-lhe um grande e luzido enterro, tocando a marcha fúnebre a charanga do batalhão de
voluntários da Rainha D. Maria II, do qual era coronel o Visconde de Bruges. O funeral saiu da rua
de Jesus, nº 87. (…) A criança fora entregue aos cuidados do criado íntimo de um alto valido do
Imperador, o engenheiro Luís da Silva Moutinho de Albuquerque, secretário da regência na
Terceira, depois ministro do Imperador regente”, acabando os seus dias como proprietário de uma
tipografia e de uma papelaria em Angra.
O referido criado dava pelo nome de Manuel José Pereira Leal e foi, junto da freira Ana
Toste, “alcaiote” (alcoviteiro) de D. Pedro, conservando-se durante largos anos íntimo dela. Mais
tarde viria a desempenhar funções de recebedor da comarca de Angra.
Toste, “alcaiote” (alcoviteiro) de D. Pedro, conservando-se durante largos anos íntimo dela. Mais
tarde viria a desempenhar funções de recebedor da comarca de Angra.
De Pedro, o principezinho bastardo, não ficaram documentos oficiais – por motivos que é
fácil compreender e desnecessário explicar.
fácil compreender e desnecessário explicar.