Foram publicados
recentemente dois livros da autoria de Carlos Enes, centrados na história
contemporânea dos Açores.
No volume A Oposição Democrática em Ponta Delgada –
das eleições de 1969 à cooperativa Sextante, o autor analisa o contexto
histórico em que foram realizadas as eleições, salientando os entraves
burocráticos, as pressões políticas e as ameaças feitas aos democratas que,
mesmo assim, não desistiram de comparecer nas urnas. O resultado final foi
muito positivo, na medida em que obtiveram 22,2% dos votos, a segunda melhor
votação a nível nacional, no campo da oposição. Na sua análise fica bem patente
a falsa liberdade apregoada pela "primavera marcelista".
Na sequência do
movimento eleitoral, gerou-se uma outra dinâmica para a abertura de uma
cooperativa cultural – a Sextante, em 1970. Com sede em Ponta Delgada, abriu
delegações na Ribeira Grande e em Angra, tendo como principal atividade a venda
de livros. Uma vez mais, a polícia política atuou de forma repressiva e em 1972
o governo já havia legislado para que fossem encerradas todas as cooperativas
de âmbito cultural.
Em qualquer um
destes movimentos ficou bem patente o empenhamento dos jovens de ambos os
sexos, rompendo com a pressão socia até então existentel.
Em A Violência da FLA quase tomou conta da ilha,
Carlos Enes centrou a sua análise na Terceira, utilizando uma vasta
documentação produzida no decurso do PREC e entrevistas a muitos intervenientes
nas diversas ações desencadeadas. De forma imparcial, vai apresentando a
evolução da correlação das forças politicamente antagónicas, até se atingir um
radicalismo que só podia terminar em violência.
A mudança de
política a nível nacional, após o golpe de 25 de novembro, e consequente
afastamento do PCP da área do poder, levou a que a FLA terceirense optasse pela
defesa da autonomia, mas sofreu o seu revés ao enfrentar as forças sindicais
quando estas decidiram sair à rua e defender a liberdade de associação e de
manifestação.