ao meu irmão Raimundo Dores
Naquele tempo esperávamos, com ansiedade, pelo 12 de junho – Dia da
Entrada Geral da Base Aérea nº 4, nas Lajes, ilha Terceira. Mal ultrapassávamos o
Posto 1, era como se partíssemos em busca do pote de ouro para lá do arco-íris…
Entrada Geral da Base Aérea nº 4, nas Lajes, ilha Terceira. Mal ultrapassávamos o
Posto 1, era como se partíssemos em busca do pote de ouro para lá do arco-íris…
Parecia que estávamos na América, porque cheirava a “sprite” e “coca-cola” e
tudo tinha um ar de festa. É que naquele dia os militares franqueavam as portas da
Base ao grande público, que caía em peso naquele cantinho vedado ao comum dos
mortais. Os americanos, envergando uniformes impecáveis e sapatos de verniz,
recebiam-nos, delambidos e com sorrisos rasgados… E promoviam visitas guiadas a
várias instalações da Base, oferecendo-nos saborosíssimos ice-creams de baunilha,
bem como chocolates “Hershey´s”, “Snickers”, “Three Musketeers” e “Butterfinger”.
tudo tinha um ar de festa. É que naquele dia os militares franqueavam as portas da
Base ao grande público, que caía em peso naquele cantinho vedado ao comum dos
mortais. Os americanos, envergando uniformes impecáveis e sapatos de verniz,
recebiam-nos, delambidos e com sorrisos rasgados… E promoviam visitas guiadas a
várias instalações da Base, oferecendo-nos saborosíssimos ice-creams de baunilha,
bem como chocolates “Hershey´s”, “Snickers”, “Three Musketeers” e “Butterfinger”.
O Dia da Entrada Geral da Base funcionava como um desfastio que vinha
quebrar a monotonia dos nossos dias pardacentos. Caminhávamos, tresmalhados,
sobre o asfalto da pista de aterragem, visitando as entranhas de aviões, helicópteros
e carros de bombeiros. Mas a maior atração era, sem dúvida, o colossal “Lockheed
C-5 Galaxy“, na altura a maior aeronave do mundo. Entrávamos, inseguros, no seu
bojo e ficávamos de boca aberta de espanto! E havia outras aeronaves, dentro e
fora dos hangares, que aguardavam a nossa visita. Poder estar no interior do cockpit
de um avião era, na altura, uma experiência inaudita.
quebrar a monotonia dos nossos dias pardacentos. Caminhávamos, tresmalhados,
sobre o asfalto da pista de aterragem, visitando as entranhas de aviões, helicópteros
e carros de bombeiros. Mas a maior atração era, sem dúvida, o colossal “Lockheed
C-5 Galaxy“, na altura a maior aeronave do mundo. Entrávamos, inseguros, no seu
bojo e ficávamos de boca aberta de espanto! E havia outras aeronaves, dentro e
fora dos hangares, que aguardavam a nossa visita. Poder estar no interior do cockpit
de um avião era, na altura, uma experiência inaudita.
Naquele dia era-nos também oferecida a possibilidade de viajarmos em
barcaças norte-americanas na baía da Praia da Vitória. Para tal saíam da Base, com
regularidade, vários autocarros (que eram azuis) com destino à então vila da Praia.
barcaças norte-americanas na baía da Praia da Vitória. Para tal saíam da Base, com
regularidade, vários autocarros (que eram azuis) com destino à então vila da Praia.
No dia da Base Aberta, era-nos explicado o significado dos lemas dos
militares: “Always ready”, para os americanos; “Para que outros vivam”, para os
portugueses. Ficávamos depois a saber das missões por eles levadas a cabo:
operações de busca e salvamento, evacuações sanitárias e operações de vigilância
marítima, no domínio civil; das operações do âmbito estritamente militar, pouco
adiantavam para além da referência de missões ligadas ao transporte aéreo tático,
até porque bem longe dali desenrolava-se a Guerra do Vietname…
militares: “Always ready”, para os americanos; “Para que outros vivam”, para os
portugueses. Ficávamos depois a saber das missões por eles levadas a cabo:
operações de busca e salvamento, evacuações sanitárias e operações de vigilância
marítima, no domínio civil; das operações do âmbito estritamente militar, pouco
adiantavam para além da referência de missões ligadas ao transporte aéreo tático,
até porque bem longe dali desenrolava-se a Guerra do Vietname…
Sentíamos, na Base das Lajes, o pulsar da civilização. Foi ali que bebi a minha
primeira “coca-cola” (refrigerante que só após o 25 de abril de 1974 entraria no
mercado português). Por todo o lado havia convívio, animação musical e exposições,
uma das quais dava nas vistas por apresentar uma panóplia de material bélico
sofisticado, revelador do glorioso poderio norte-americano.
primeira “coca-cola” (refrigerante que só após o 25 de abril de 1974 entraria no
mercado português). Por todo o lado havia convívio, animação musical e exposições,
uma das quais dava nas vistas por apresentar uma panóplia de material bélico
sofisticado, revelador do glorioso poderio norte-americano.
As visitas iam chegando ao fim. E, regalados da vida, saíamos das instalações
da Base a trincar chupa-chupas com sabor a groselha.
da Base a trincar chupa-chupas com sabor a groselha.
“Abençoada América que tantos favores nos fazes”, escreveria, mais tarde, o
poeta J. H. Santos Barros.
poeta J. H. Santos Barros.