263 anos depois…os nossos Ilhéus Açorianos
Nove ilhas no meio do Atlântico Norte foi seu berço. No olhar do imaginário representam mais que pontos insulares na carta geográfica. São nove flores nascidas do oceano, paridas nas entranhas da terra incandescente. São partes de uma guirlanda de flores, aberta, modelada numa curvatura que lembra um “S,” desde Santa Maria no oriente até o extremo oposto, as Flores, no ocidente. Um S de saudade dos que partiram e dos que ficaram. Um S de sabedoria de seu povo, de suas crenças, de seus afetos e de sua história.
Correram a abraçar o mundo atrás da sua estrela Guia que apontava o seu destino: o extremo sul do Brasil. Pilotos de sonhos, o olhar fixado além do horizonte, procuravam o futuro. Passageiros da grande aventura açoriana do século XVIII, navegantes dos caminhos do mar, no dia 6 de janeiro de 1748 atracaram na Vila de Desterro, bem ali onde um dia foi o Miramar.
Aqui, nesta margem, lançaram sua âncora da esperança e como os Reis Magos depositaram suas oferendas ao Deus-Menino entregando à terra que os acolhia os seus sonhos e a sua fé no Novo Mundo. Era o início da saga de um povo, vindo das ilhas de São Jorge, Pico, Faial, Graciosa, Terceira, S.Miguel, para desbravar os amplos espaços das planícies litorâneas e pampa gaúcho.A história fala de forma inequívoca que o assentamento do expressivo contingente de 6000 açorianos e alguns madeirenses no Brasil Meridional veio preencher um grande vazio demográfico bem como fortaleceu a política do utis possidetis, dilatando fronteiras e assegurando a posse do território disputado por Portugal e Espanha. Representa mais do que um movimento de diáspora, significa um movimento do espírito, indomável, na reinvenção da vida no Novo Mundo.
A Ilha de Santa Catarina – Ilha da Magia, Ilha dos Casos Raros, Ilha das Bruxas – mantém grandes afinidades com o Arquipélago dos Açores. As travessias, em todos os sentidos, foram intensificadas nas últimas décadas.
Nas plagas de Santa Catarina, os açorianos foram visionários na Música, nas Artes,na Literatura, na Política, no Jornalismo, na Arquitetura de nossas vilas e igrejas, no entrelaçar dos fios da grande almofada de renda de nossa cultura insular. A condição de insularidade cala fundo na alma da nossa gente, preservando por séculos as tradições impregnadas em nosso coração, no jeito de ser, agir e em seu falar.
Eis a alma “daquele corpo sem alma” que tanto falava o brigadeiro Silva Paes em suas cartas ao Conselho Ultramarino. Construtores de um novo tempo nesta terra abençoada que, no século XIX, receberia os imigrantes de outras partes da Europa e, juntos, forjaram a identidade cultural do Estado assentada na multiculturalidade do nosso povo, criaram a grandeza de Santa Catarina.
São marcos de uma história que dignifica Santa Catarina e os Açores. E por isso mesmo merece ser celebrada por açorianos com idêntico orgulho dos catarinenses ciosos da força de sua raíz.
Hoje – 6 de janeiro de 2011 – 263 anos depois da chegada dos primeiros casais açorianos à Ilha de Santa Catarina, damos um grande Viva aos nossos antepassados, os ilhéus AÇORIANOS.
Viva!
Lélia Pereira da Silva Nunes
6 de janeiro de 2011