A minha visão é de fora tem a desvantagem de não estar perto de modo a aperceber-me das chamadas "micro-agressões", de que agora tanto se fala. Mas acho que também tem uma vantagem. O Portugal de hoje está muito longe do Portugal da Inquisição e do salazarismo. Numa geração, o país mudou imenso e passou a aceitar realidades impensáveis há vinte anos. Há uma característica cultural portuguesa que joga a favor do pluralismo: os portugueses, quando não aceitam determinados comportamentos, fingem que não vêem. E isso é bem melhor do que a militância agressiva que existente em vários países, como nos Estados Unidos, por exemplo.
Aproveito para acentuar uma ideia que há muito repito: o pluralismo não exige que as pessoas pratiquem comportamentos plurais. Cada um tem o direito de seguir as suas crenças e valores. Importa sim que deixem os outros actuarem segundo os seus valores, desde que não infrinjam os direitos dos semelhantes. A máxima "Vive e deixa viver" resumiria o que pretendo transmitir. Uma sociedade plural não tem que promover, nem sequer acreditar nos valores que permite coexistirem; apenas que lhes reconheça e ceda o seu espaço de liberdade. Quando do outro lado do Atlântico olho para Portugal em termos comparativos, vejo que avançamos imenso nesse domínio da tolerância. E basta ler o que os estrageiros hoje escrevem sobre o país que visitam (e muitos adoram) para termos consciência disso. Quem tiver dúvidas passe algum tempo a ler o que os visitantes, sobretudo do Centro e Norte da Europa, escreveram sobre Portugal nos séculos anteriores e até não há muitas décadas.
ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA