A Caminho da Casa Branca
A um ano e meio das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, já cheira a campanha. O processo para as primárias já está em andamento, e para quem gosta de política, os próximos 18 meses serão, ainda mais uma vez, empolgantes. Se não o forem pela qualidade das mensagens transmitidas, sê-lo-ão, de certeza, pelas peripécias que vamos ler, ver e ouvir. É que as campanhas para a Casa Branca, são sempre cheias de surpresas, particularmente pelo lado do Partido Republicano onde, já há mais de meia dúzia de candidatos, e onde outra meia dúzia promete entrar na corrida. E que grupo temos desta vez.
Com campanhas anunciadas em público temos: Ben Carson, Carly Fiorina, Marco Rubio, Rand Paul, Ted Cruz e Mike Huckabee. Ainda por anunciar, mas dados como certos estão Jeb Bush, Rick Santorum, Rick Perry e Lindsey Graham. Como possíveis, Chris Christie, Scott Walker, Bobby Jindhal e a sempre surpreendente, e fornecedora de material para qualquer comediante americano: Sarah Palin. Se todos entrarem serão 14 pretendentes à nomeação do Partido Republicano. Acho que deveriam conseguir mais 36 e assim teriam um de cada estado da união americana.
Todos eles têm, diga-se de antemão, mensagens bastante similares, particularmente porque nesta fase do campeonato estão falando para os convertidos e para as hostes mais conservadoras do Partido, já que são esses vão às urnas em eleições primárias. Daí que, quase se atropelam no processo de ver quem consegue estar mais à direita. É um concurso para ver quem é o mais retrogrado e quem neste momento não se identificar com a idade média ficará sujeito a perder a nomeação. Torna-se quase assustador ouvir as afirmações feitas ao longo das últimas 4 semanas. Concentremo-nos naqueles que já anunciaram. Em outro momento, e outro espaço, debruçarei sobre os que dentro de escassos dias apregoarão as suas candidaturas.
Comecemos por Mike Huckabee. Considera-se um “conservador em assuntos sociais.” É sacerdote ordenado por uma igreja evangelista e acredita que estamos a viver tempos bíblicos do apocalipse. Concorreu em 2008, onde era o único candidato da chamada extrema-direita religiosa, mas desta vez tem competição pela parte de Ted Cruz. Continua a afirmar dispartes como: o atual Presidente, Barack Obama, foi criado no Quénia; que os signatários da declaração da Independência dos Estados Unidos eram quase todos clérigos; que precisamos erguer um muro entre os EU e o México para cessar a vinda de paquistaneses; que a recessão económica de de 2007-08 foi criada por terroristas internacionais e que os mórmons acreditam que Jesus e o Diabo são irmãos. A sua experiência politica resume-se a governador do estado de Arkansas e comentador da simpatiquíssima rede televisiva FOX News, onde a verdade é uma nuvem passageira e o racismo e a xenofobia são instrumentos do quotidiano.
Com linguagem semelhante aparece Ben Carson. Um neurocirurgião com uma história pessoal empolgante. Veio de meios extremamente humildes e é considerado um dos melhores neurocirurgiões do país. Não tem qualquer experiência política, nem tão pouco presidente duma junta de freguesia, mas também não tem as amarras da experiência política. É conservador, mas tem, no mínimo, uma política eclética e incoerente. Faz comparações entre o Partido Democrático e o s Nazis; acredita que vivemos o Terceiro Reich aqui nos EUA; afirmou que os dilemas na saúde pública dos veteranos de guerra é uma “prenda de Deus” para vermos como a burocracia não funciona, como afro-americano acredita que o plano de saúde nacional (que já agora está a funcionar) conhecido como Obamacare é o pior que aconteceu à América desde a escravatura; fez comparações entre os Fundadores da Nação (Jefferson, Washington, Adams, Franklin, etc.) e o movimento islâmico ISIS, entre outros despautérios.
Ted Cruz é conhecido como o menino adorado pelo movimento Tea Party. Nasceu no Canadá de pais americanos e representa o surpreendente estado de Texas. Extremamente retrogrado, não acredita em nada que se relacione com o progresso humano e social. É verdadeiramente um político do século XII. Algumas das suas afirmações seriam cómicas, se não fossem assustadoras e perigosas para a democracia americana. Diz que a comunicação social (com exceção da FOX) quer colocar a América num abismo; que a administração Obama tem violado as dez emendas à Constituição; que o aquecimento do planeta é uma complot dos cientistas para destruírem o mundo; que o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo é uma estratégia governamental para acabar com o cristianismo, enfim uma melopeia de afirmações verdadeiramente medievais que se fossem implantadas, a América jamais se pareceria consigo própria.
Carli Fiorina, foi candidata a senadora pela Califórnia, perdendo, desastrosamente, contra Barbara Boxer. Foi gerente da gigante do mundo da tecnologia, Hewlett-Packard, tendo tido uma gerência extremamente controversa, acabando por ser despedida. Segundo as analistas, é uma candidatura praticamente condenada ao obscurantismo, sem grandes possibilidades, apesar de ser a única mulher concorrente, e com os estrategas republicanos satisfeitíssimos, já que passa a vida a criticar Hillary Clinton, o que alivia os candidatos masculinos do Partido Republicano de qualquer acusação de sexistas. Daí ser muito portável que continue e receba alguns grandes donativos, porque até à convenção, e efetiva nomeação, Fiorina serve para dizer o que muitos candidatos masculinos não poderão dizer. Porém tem dito frases inimagináveis, tais como: os ambientalistas é que provocaram a falta de chuva na Califórnia.
Da parte mais libertária do Partido Republicano aparece Rand Paul, filho do congressista Ron Paul que foi, por várias vezes candidato e que nunca ultrapassou as primeiras batalhas sendo sempre um candidato das margens. Não é o caso do filho. Rand Paul é senador por Kentucky e escassas horas depois de anunciar a sua candidatura cortou a corda umbilical que o ligava ao movimento mais moderado e menos intervencionista do Partido. Se já foi contra o imperialismo americano, agora é mais imperialista do que Augusto no Império Romano. Claro que ao tentar entrar no cerne do Partido Republicano tenta distanciar-se se algumas posições mais “liberais” que tem tido e segura-se a outras que a base do partido adora: a homofobia, redução de impostos, o sempre ficcionista discurso de destruir o governo federal, assediar a inércia de Washington, promover o direito de cada americano ter um arsenal debaixo da cama e outro no guarda-roupa, enfim todas as frases feitas que o eleitorado menos informado e mais jingoísta gosta de ouvir.
Considerado um candidato do mainstream e com fortes probabilidades de ganhar a nomeação temos Marco Rubio. É visto como o candidato que poderá forjar uma coligação entre os conservadores sociais e os militaristas. Apesar de ser de origem hispânica (com famílias emigradas de Cuba) não tem grande popularidade entre os Hispânicos e recentemente mudou a sua posição (não passaria o barómetro das primárias) tornando-se um opositor de qualquer legislação para começar o processo de legalização e trajetória para a cidadania dos mais de 12 milhões de clandestinos que vivem nos EUA. Rubio tem apoio de alguns dos Republicanos mais endinheirados, pelo menos até Jeb Bush anunciar formalmente a sua candidatura. É que as posições dos dois são similares e Bush, para o bem e para o mau, tem o nome e as ligações da família.
Esta colheita, parcial, entenda-se, de candidatos à nomeação do Partido Republicano é, no mínimo, apavorante, particularmente porque todos têm usado um discurso anti progresso e com pinceladas de ódio. Têm sido fiéis seguidores da famosa frase de Niccolo Machievelli: a política não tem moral. Para esta safra todos os males da América vêm das minorias, dos clandestinos que fazem os trabalhos que os americanos não querem fazer e dos avanços que temos feito na ciência, no conhecimento e na justiça social. Sabe-se que é um discurso muito circunscrito a uma base muito conservadora e que representa menos de 30% do eleitorado americano, mas é assustador que no baluarte da Democracia tenham que fazer semelhantes afirmações. Resta-nos a consolação que quase todos ficarão a meio da trajetória. Porém, ninguém se iluda, ao longo do processo as sementes que lançarão serão nocivas para a sociedade americana.
Diniz Borges
Natural da Ilha Terceira, o escritor DINIZ BORGES vive em Tulare, Califórnia .
É Professor na Tulare Union High School. Assina o Suplemento Literário "Maré Cheia" do Jornal Tribuna Portuguesa (Modesto,Ca). Uma das vozes mais expressivas e influentes da comunidade portuguesa na América.