CABRAL, A Dança das Almas, – 2013
MENINO JESUS ENTRE OS DOUTORES
Mário T Cabral, 2013
39. MEDITAÇÕES
b) 1Cor15
O capítulo 15 da primeira carta de S. Paulo aos Coríntios refere-se à ressurreição dos mortos. Mesmo antes de entrar no assunto, propriamente dito, já o interesse da passagem é notável.
O Apóstolo refere-se à fé cristã como testemunho de factos históricos, aproximando-se de S. João, dos Atos dos Apóstolos e da linha de fundo dos primeiros crentes.
Ou seja: garante que ensinou aquilo que recebeu tal e qual como o recebeu; e insiste para o evangelho ser preservado e guardado no mesmo respeito absoluto pelo testemunho.
Note-se que não se apresentam argumentos mas um testemunho ocular. A fonte de certeza não é a razão, mas a palavra e a autoridade. Este ponto é axial para o Cristianismo.
Simplificando: contra factos não há argumentos.
O resumo de S. Paulo é este: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, aparecendo a imensas pessoas, das quais muitas ainda estavam vivas, entre elas o próprio Paulo.
Ele está a escrever a gregos, cuja mentalidade era muito parecida com a nossa atual, preferindo a filosofia e a ciência como fontes de certeza e fundamento de todo o conhecimento digno de crédito.
A imortalidade da alma fora tratada por Platão, no Fédon. A eternidade da matemática, geometria e lógica – o mundo das ideias – continua aí a provocar os maiores esforços dos materialistas.
Aristóteles também aceita a existência da imortalidade do Espírito, no sentido geral, embora rejeite a imortalidade da alma individual, que a custo Platão consegue provar.
Aliás, o problema filosófico continua hoje o mesmo: os materialistas são obrigados a aceitar o mundo das ideias, a liberdade e a subjetividade, que não se regem pela causalidade; e os dualistas (Descartes), não sabem o que fazer com a matéria e, portanto, com o corpo.
Cuidado: nós não acreditamos na ressurreição por causa deste debate humano, para o qual também não apresentamos solução. O que nós temos a certeza absoluta é de Jesus Cristo morto e, depois, ressuscitado, tal como garantira que aconteceria.
Não foi um fantasma, que o diga S. Tomé. E a esperança de que nos acontecerá o mesmo, como foi prometido, é o eixo da nossa fé. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé; o melhor é gozarmos a vida antes de morrermos.
Porque nada há de mais triste do que um cristão que reduz o evangelho às medidas desta vida – a uma revolução política e social: à transformação do mundo num lugar mais justo e equitativo, etc.
Não há Cristianismo sem loucura e sem escândalo.