No último Sábado, 13 de fevereiro, foi inaugurada no Município de Muitos Capões, no Rio Grande do Sul, a Vila Açoriana,nas dependências da Vinícola Fazenda Santa Rita.
Pelos campos de soja que vão cobrindo toda a extensão de 40 km,uma imensidão verde de arder os olhos,surge a sede da Vinícola Fazenda Santa Rita, edificação imponente inspirada na Cultura Açoriana.
Trata-se do projeto idealizado pelo empresário gaúcho, Agamenon Lemos de Almeida, descendente de açorianos. Apreciador sensível das manifestações culturais açorianas ousou construir na Fazenda Santa Rita, no município de Muitos Capões, região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, uma vinícola inspirada nas tradições lusas e, em especial, as oriundas dos Açores.
Quando, a cerca de um ano, o senhor Agamenon me procurou para conversar sobre os Açores, a gastronomia, o vinho, o artesanato, as festas, a música e falou do seu projeto ou sonho fiquei muito intrigada. O que será que realmente pretendia? Seria mais um piloto de sonhos? Entretanto, seus voos alçaram os céus do imaginário aterrisando no solo firme dos Campos de Cima da Serra, aonde sua família se fixou após um longo percurso, desde São José do Norte, Porto dos Casaes, São Francisco de Paula e Vacaria.
Originários das primeiras trezentas famílias açorianas, descendentes “dos casais de 1751-1763”, relacionadas pelo historiador João Borges Fortes em sua obra “Casaes” (1932). Seus antepassados seguiram o caminho das tropas, alcançaram o planalto e se dedicaram à agricultura na região conhecida como a “Porteira do Rio Grande do Sul”.
Agamenon Lemos de Almeida, proprietário da Fazenda Santa Rita, centenária e tradicional empresa de agronegócios, em 2005, decidiu investir na implantação de vinhedos numa pequena área de 12 hectares de sua fazenda. As primeiras videiras das variedades Merlot, Chardonay, Sauvignon Blanc e Pinot Noir foram plantadas em 2009 em “terroir” de excepcional qualidade. Os vinhos finos da “Vinícola Fazenda Santa Rita” começam a ser produzidos em 2012. Em apenas três anos de vinificação, a aceitação no mercado e o reconhecimento de excelência se traduzem em premiações recebidas, destacando-se a Medalha de Ouro, no VII Concurso Internacional de Vinhos do Brasil com “Merlot 2012” e em 2015 a Medalha de Ouro Challenge International du Vin (França) com o “Brut Rosé Casa Portuguesa” que recebeu Medalhas de Ouro em concursos realizados na Itália e Argentina. Entretanto, o “Villa Açoriana Natural Brut” e o “Villa Açoriana Natural Nature”, espumantes elaborados com 70% de uvas Chardonnay e 30% da variedade Pinot Noir, tornaram-se a menina dos olhos da Vinícola. Aromas frescos, suavemente frutado de maçã verde e abacaxi. Simplesmente, maravilhosos.
Aliás, o tributo aos açorianos não se limita a denominação dos vinhos e espumantes produzidos. Impressiona o sentimento de “não deixar morrer” as tradições transportadas dos Açores e os valores recriados na margem de cá, como o artesanato (rendas e cerâmicas), a azulejaria, a arte pictórica e as edificações. Ciente de suas raízes e de seus antecedentes oriundos das ilhas do Pico, Terceira e São Miguel, Agamenon de Almeida construiu os prédios da Vinícola Santa Rita e, no seu entorno, a Vila Açoriana, inspirados na arquitetura portuguesa e no colonial lusobrasileiro, dando vazão a sua mundividência assentada na criação cultural celebrativa e histórica.
Não parou por aí. Curiosamente, ergueu uma réplica da igrejinha da Lagoa da Conceição, construída pelos açorianos em 1751, cartão postal de Florianópolis. Para abrigar a cantina reproduziu o antigo prédio da Alfândega da Ilha de Santa Catarina, belo exemplar da arquitetura neoclássica do século XIX .
A Vinícola e a Vila Açoriana da Fazenda Santa Rita foram construídas com a finalidade de preservar e difundir os valores culturais açorianos, representados pelas famílias formadoras da identidade do homem rio-grandense e que estão listadas num grande painel na cave da vinícola. Se, por um lado significa o fortalecimento do vínculo com a nossa matriz histórica e cultural. Por outro, representa o olhar visionário de quem investiu num sonho, sem perder o objetivo econômico – atrair visitantes de todo o País (e não só) para o produto “vinho” como pela presença cultural açoriana nos Campos Cima da Serra.
Por isso, não será surpresa se, ao visitarem a Vinícola Fazenda Santa Rita, toparem com uma “adega do Pico”, um “moinho da Graciosa” ou um exemplar típico do “império do Espírito Santo da Terceira”. Nada menos.
Se bem me lembro, William Faulkner disse que “todo homem é a soma do seu passado”. Aqui, este passado continua presente em diluídas gotículas de sangue. Pois, no Sul do Brasil, o açoriano é um vencedor pela sua descendência.
(*)Escritora, Academia Catarinense de Letras e IHGSC.
O artigo foi publicado na sua íntegra no Açoriano Oriental,Portuguese Times e LusoPresse.