A IDEOLOGIA DOS HUMORES
Nuno Costa Santos
Deixa-me ser como tu
geração empenhada
cheia de causas
quando as causas
dizia-se terem expirado
como os prazos e a Historia
como tu arrumado
à esquerda à direita
tão faccioso e tão seguro
sem saltar de uma margem
para a outra ao sabor
das guinadas ao volante
e da ideologia dos humores
ah geração empenhada
que pões os teus
óculos partidários
para assistir ao jogo
dos homens
sabes tanto
suspende-me o desvario
oferece-me
teimosias bandeiras ideais
ensina-me a incluir
a palavra “contra”
no dicionário dos almoços.
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Sobre o jovem escritor açoriano,NUNO COSTA SANTOS, escreveu Rafael Guedes no Blog Diálogos Exemplares em 2012, na introdução de uma entrevista realizada com Nuno.
” Se não é 100% seguro – e nem, vá lá, muito educado – dizer que Nuno Costa Santos é a figura mais interessante do cenário cultural português atual, certamente é possível dizer que ele é uma das suas personalidades mais criativas. Em um meio repleto de gênios e semi-gênios, este português de Açores se diferencia por possuir uma vocação rara entre a maior parte de seus pares – é humorista – e por transitar entre diversas áreas com talento constante. Como um Antônio Maria ou um Millôr Fernandes contemporâneo, Nuno Costa Santos escreve, roteiriza, faz crítica musical, atua, dirige, assina uma coluna na revista “LER“ e realiza programas radiofônicos de música alternativa. Talvez nenhum outro português tenha trabalhado tanto – e tão bem – desde os tempos áureos de Miguel Esteves Cardoso. Humorista de talento fino e gags elegantes, Nuno atingiu a sua forma perfeita do cômico no programa televisivo “Melancómico”, do qual foi criador e personagem principal. Exibido ao mesmo tempo pelo canal português “Q” e na Internet, o esquete foi encerrado em julho de 2011 e no final do ano retornou em livro. “Melancómico – O livro” (Atelier Escritório Editora), reúne aforismos, mais literários que sentenciosos, sobre a vidinha simples, delicada e algo poética de um cidadão moderno comum, perdido entre o sentido da vida e as ofertas do supermercado, entre o espanto existencial e a asma. Na entrevista a seguir, Nuno Costa Santos, que já foi chamado de “o Woody Allen luso” pelo intelectual João Pereira Coutinho, repassa algumas das questões que envolvem sua vida e seu trabalho.”