A ILHA DE SÃO MIGUEL
No vasto deserto do mar sem limite,
Das ondas cercada no louco furor,
Existe uma terra de lêda magia,
Um berço de rosas – num leito d’amor!
Jamais das estrelas a luz scintillante
N’um prado mimoso mais linda poisou;
Jamais das montanhas o sol que desponta,
Alfombras ridentes tão meigas formou.
Nos lagos, nas rochas do mar sobranceiras,
Nas selvas, nas fontes de puro crystal,
A mente delira com doce harmonia
Ao ver essa per’la que luz sem rival.
É grande nas obras que intenta soberba,
De nobres virtude constante sorri;
Escreve seus fastos com mão generosa
Diz sempre aos que sofrem – «coragem, pedi».
E o anjo que véla seus sonhos d’encantos
Mais linda a encontra da tarde á manhã,
Qual noiva formosa toucada de branco,
A fronte nas vagas mirando louçã.
Se dado me fora, quizera offertar-te
Esplendidos cantos – ó ilha gentil;
Mas pobre só posso, na lyra que treme,
Sagrar-te saudades, aos centos ás mil.
Eu fui peregrino passando nas trevas,
E tu me acolheste nos braços também,
Por isso eu te quero, qual filho ditoso,
O meigo sorriso d’uns lábios de mãe.
Ernesto Rebelo,
Contos e Poesias Açoreanas, Horta, Typ. Hortense, 1873.
Ernesto de Lacerda de Lavallière Rebelo (1842-1890), jornalista, ficcionista, poeta, nascido em Lisboa viveu desde muito pequeno na cidade da Horta, ilha do Faial, onde trabalhou e veio a falecer.
Imagem de http://gorreanatea.blogspot.ca/2011/05/beaches-of-sao-miguel-azores.html