A Ilha dos Ventos Volúveis
Raul Caldas Filho lança o seu primeiro romance
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Mário Pereira
“Era uma noite de vento sul. O seu uivo lamentoso zumbia como um enxame de abelhas, enquanto assobiava e penetrava pelas frinchas das janelas, forçando as portas e balançando cortinas e lustres. Soprava com tal vigor que a plácida Baía Sul tornava-se encapelada e ruidosa, as ondas explodindo na areia com a violência de um chicote.”
Mais do que acessórios para compor o cenário, os ventos sul e nordeste atuam como verdadeiros personagens da trama. Daí o título de A Ilha dos Ventos Volúveis dado por Raul Caldas Filho, jornalista e escritor de largo curso, autor de 10 outros livros _ entre contos, crônicas, perfis biográficos e reportagens _ ao seu primeiro romance, recém-lançado pela Editora Insular, e incluído na relação dos destaques literários do ano da Academia Catarinense de Letras.
A história começa em meados dos anos 1940, quando dois rapazes chegam a Florianópolis no navio Carl Hoepcke, a bordo do qual se conheceram. Ambos se instalam na cidade em busca de novas oportunidades. Eles são o fio condutor da trama, que mescla personagens ficcionais com figuras históricas, como o ex-governador Aderbal Ramos da Silva e Nereu Ramos. Através de suas andanças pela então pacata e provinciana Capital, de seus relacionamentos afetivos, e de suas aventuras sexuais, uma sociedade fechada _ e um tanto hipócrita _, mas na qual “até as paredes têm ouvidos” _ vai revelando seus segredos.
Para quem viveu aqueles tempos, será motivo de nostalgia e encantamento circular por muitos dos cenários descritos pelo autor, como o Miramar, onde a cidade se encontrava consigo mesma, os café Nacional, reduto do antigo PSD (não o atual partido “genérico”), e Rio Branco, onde se reuniam os udenistas, os clubes, e os bordéis. Tudo na moldura da Ponte Hercílio Luz, a velha “dama de ferro”, companheira silente de diversas gerações de ilhéus. Tudo com a precisão de um jornalista atento e o talento de um ficcionista de ponta. Raul Caldas Filho é um e outro, e os dois ao mesmo tempo…
A Ilha dos Ventos Volúveis pode ser lido, também, como um roman à clef (romance a chave) expressão francesa para designar obras em que o autor usa personagens reais como personagens fictícias. Com efeito, atrás de alguns personagens imaginários, escondem-se certas figuras reais, muitas ainda vivas, bastante conhecidas na cidade. Instigante. Livro para ser lido de um sorvo só. A sua chave é a memória.
E que continuem a soprar sobre a Ilha e a contar suas histórias os volúveis ventos sul e nordeste, este, a exemplo do líder político Nereu Ramos, também conhecido pela alcunha de “papo-amarelo”.
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Notas Biobliográficas do escritor Mario Pereira:
Jornalista, e também formado em Direito, professor universitário, escritor, Mário Pereira é membro da Academia Catarinense de Letras (cadeira número 8),eleitoeleito em 2009.Produção Literária:Fazendo a Cabeça – Jornalismo de Ideias e Crítica (ensaios, Editora Paralelo 27, 1993), Pequena História de Florianópolis (infanto-juvenil, Editora Terceiro Milênio, 1994), Certas Certezas (ensaios, Prêmio Othon Gama D`Eça da Academia Catarinense de Letras de 1995, Editora Terceiro Milênio, 1995), Ao Pé da Letra – Escritores Catarinenses Contemporâneos (crítica e história da literatura, Editora Garapuvu, 2002), História de Florianópolis para Ler e Contar (infanto-juvenil, Cuca Fresca Edições, 2004), 12 Histórias (contos, Prêmio Mérito Categoria Conto da Academia
Catarinense de Letras de 2004, Editora Garapuvu, 2004), e Saudade do Futuro crônicas, Editora Insular, 2011). Participou da coletânea Círculo de Mistérios – O Conto Policial Catarinense (contos, Editora Garapuvu, 2000).
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Sobre o Autor Raul Caldas Filho:
Raul Caldas Filho nasceu na histórica São Francisco do Sul (Santa Catarina) em 1940, mas se criou e fez os seus estudos em Florianópolis.É formado em Direito, jornalista profissional, cronista e ficcionista. Como jornalista trabalhou ou colaborou com os principais jornais catarinenses a partir de 1963. Foi repórter da revista Manchete nos anos 1967/68 no Rio janeiro e correspondente da editora Bloch em Santa Catarina. Já publicou dez livros, sendo seis pela Editora Insular, entre ficção, crônicas, reportagens e textos variados. Participou ainda de dezenove coletâneas.
Da sua vasta produção literária destaca-se:
O Jogo Infinito (ficções),UFSC, 1984;O Dia D de um Desempregado (contos),Insular, 2000;O Vendedor de Diabos (contos e minicontos),Garapuvu, 2005;A Garota de Programa e Outras Mulheres(contos,Insular, 2007;Oh! Que Delícia de Ilha (crônicas),Paralelo 27 e Lunardelli,1995 (1ª, 2ª e 3ª edições) e 1997 (4ª e 5ª edições);Oh! Casos e Delícias Raras (crônicas, Ed.Paralelo 27 e Insular, 1998 (1ª edição);Insular,2002 (2ª edição) e 2004 (3ª edição).
O ABC do Manezinho (verbetes sobre a Ilha de Santa Catarina),Insular, 2003;O Solitário das Galés (reportagens e entrevistas),Insular e Associação Catarinense de Imprensa (ACI), 2006.
A Palavra Mínima, Editora Insular, 2009.
Perfil biográfico:Zininho – Jamais um Poeta Teve Tanto para Cantar, Fundação Franklin Cascaes e AJS, Comunicação e Marketing, 1992.
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