A Longa Espera!
Foi, meu caro Daniel, um dos teus mais belos contos. E era Natal, naquele já longínquo 1987. “ A Longa Espera”. Claro que me lembro, ainda quase de cor, da “Boneca Muda” que me dedicaste há anos e que quiseste que constasse do teu livro “O Deus dos Últimos” (Ver Açor Editores 2011). Mas, nestes 30 dias de ausência, acredita que me sinto dentro daquela “Longa Espera”. Como o teu Amasaí, eu também digo: “O milagre somos nós”. Um milagre autêntico, meu querido Daniel, tudo aquilo que nos deixaste, no que escreveste, no que disseste, mas essencialmente no que fizeste.
Todos poderão falar de ti, mas creio que o silêncio do teu grande Amor, a Maria Alice, fala mais alto do que todas as vozes, porque para ela, mais do que ninguém, fará sentido esse teu título de livro que agora é capítulo de vida “A Longa Espera”. Aí, onde estás, Amigo, já não há esperas e já te encontraste, decerto, com todos os teus personagens do Deus em que acreditavas verdadeiramente: O Deus dos Últimos.
Já deves ter visto “a Luz que guiou os Magos”, já deves ter encontrado a Marta e o Pedro, “Rezando a um Deus que dorme” e já percebeste a razão por que aquele poeta deixou “Um poema por Escrever”.
Quando um dia revelaste ao mundo “A bebedeira do Pai Natal”, que “trocava as pernas e o destino dos brinquedos”, ainda estavas na “longa espera” para esse encontro pleno que agora vives, na terra dos sonhos, na outra dimensão da vida que amaste e que tão bem retrataste nas “saudades do sino grande” ou nos “sinos do Tio Bernardo”, ( e vão ser setenta e cinco badaladas, senhor padre). Caríssimo Daniel! Muito já disseram de ti. Mas nada que se compare com o que disseste dEle. (Estás a perceber este E maiúsculo, não estás?) Para ti, acabou a longa espera. O teu tempo agora é de presença. E, engraçado, de dupla presença. Presença aí, onde o tempo não se mede, e aqui onde continuas no rasto de vida e de letras que nos deixaste, porque quando se ama e se escreve, cada letra é uma estrela de luz que reflecte céu e mar, como se a palavra fosse universo de ser que se fecha numa simples página de livro.
Por isso, Daniel, não sei se a espera vai ser longa ou não. Só te posso dizer: até breve, Amigo!
Santos Narciso.
by: Jornalista José Manuel Santos Narciso
Jornal Correio dos Açores