confidências sonoras
aos meus
Poetas esculpidos no rochedo da Espera
… dei por mim a escutar melodias do longe
em ecos desafinados pelo galope do tempo:
sons estranhos ao catequismo musical
que moraliza o ruído sob o pálio do espanto
a vigiar os lapsos da longevidade humana…
bravos mortais! tenham paciência!
a morte não pode acudir a todos
sem prévia autorização do tempo
o passado foi desperto pelo eco da distância
de sentinela no guarda-vento da memória
e o passaporte da morte já perdeu a validade…
rolam magoadas pelo cinzel da eternidade
lágrimas de mámore no altar do sofrimento
os discípulos devotos de santa dúvida
são fiéis defuntos junto ao túmulo da espera
conta-gotas da transitoriedade humana
… ó morte! noiva maldita junto ao altar da dor
aparição infalível nas bodas da despedida
ó morte! atestado da certeza final da nossa hora:
– porque finges acudir ao gemido da inocência?
acaso és irmã-gêmea da vida? Ó deusas ciumentas…
Ó vida! ousadia de pincel na tela do amor:
enquanto houver luz, quero ser a tua sombra
a espreitar o grito matinal da eternidade…
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Inédito
Rancho Mirage, California – USA
Dezembro, 2008
golo da poesia!
a Lélia Nunes
… o quê? qual fim, minha irmã…
o fim talvez seja vírgula esquecida
na bíblia da liberdade
ou orfão do segredo cardeal
da eternidade…
na vida, o ponta-pé de saída
ignora o apito final da partida;
a multidão vive distraída
no aplauso às ilusões semeadas
na grande-área da vida…
vamos visitar o presépio do presente
na brisa gelada da imensidade
que o tempo nos consente:
– cuidado! aí vem nosso irmão pródigo
regressado do futuro…
avante! grita tua mágoa heróica
na “feira da ladra” da história
onde a morte afaga a vã glória
de nos adivinhar a sina
ao impor sua rotina…
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Inédito.
Rancho Mirage, California – USA
Novembro, 26 /2007
Crédito das Imagens:
1. Jornal Portuguese Tribune,Califórnia (USA)
2. Acervo I Congresso Internacional de Imprensa Não Diária, Furnas,São Miguel,2007