LUIZ VAZ DE CAMÕES-
Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi reposta
em cada verso.
E à fome, condena-
ram-me os perversos
e alguns dos poderosos.
Amei a pátria
injustamente cega,
como eu, num dos olhos.
E não pôde ver-me
enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos
de meu sonho
precavido?
E o idioma não
passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra.
E agora me ergue
no Convento dos
Jerônimos o túmulo,
quando não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo
ou mendigo de uma
pátria. Mas da língua
que me conhece
e espera. E a razão
que não me dais,
eu crio. Jamais
pensei ser pai
de tantos filhos.
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A CASA NÃO TEM FIM
A casa não tem fim
e os inúmeros projetos
no quintal dependurados
entre as roupas.
Devagar
que a vida é pouca
para tamanha resposta.
A casa não tem fim.
começa no amor
e o amor decide em mim.
E os muros roídos,
os cravos,
as persianas nos sentidos,
entreabertos.
Devagar que a vida é solta.
II.
A casa não tem fim .
Há coisas aproveitadas
pelo ano seguinte.
sapatos, malas, poemas.
Um tempo conosco resiste
diferente do tempo,
subterrâneo, por dentro,
quando amamos.
O pessegueiro que
madurou com os pardais
pode secar sem eles.
E o nosso rosto.
Os seres.
A casa não tem fim, Jonas.
Transitarão por ela gerações
e será sempre o mundo recriado
com a linguagem do amor
indeclinável.
(de Casa dos Arreios,1972)
Carlos NEJAR
(n. Porto Alegre, Rio Grande do Sul,1939)
Poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário. É gaúcho e capixaba,pois vive no Espírito Santo.Aposentou-se do magistério e da prática jurídica, mas não abandonou o ofício da escrita.
Membro das Academias Brasileiras de Letras e de Filosofia. Apresenta uma vasta obra ficcional destacando-se RIOPAMPA, O Moinho das Tribulações (2000) – Prêmio “Machado de Assis,” o melhor romance, da Fundação da Biblioteca Nacional (2006) e O Poço dos Milagres (2005), prêmio de melhor prosa poética, da Associação Paulista de Críticos de Arte. Obra poética: Sélesis (1960), Livro de Silbion(1963),Canga(1971),O Campeador e o Vento(1966), O Poço do Calabouço(1974), Árvore do Mundo (1977), O Chapéu das Estações (1978), Um País o Coração(1980), Obra Poética I (1980), Livro de Gazéis (1983), A Idade da Aurora:Fundação do Brasil,1ª e 2ª ed.(1990), Amar: A Mais Alta Constelação (1991);Elza dos Pássaros, ou A Ordem dos Planetas (1993), Aquém da Infância (1995); Os Viventes (1979, 2ªed.1999), Os Melhores Poemas de Carlos Nejar (1998), Teatro em Versos (1999), A Espuma do Fogo (2003), Poesia Reunida: I. A Idade Da Noite; II. A Idade da Aurora (2002-2003), Tratado de Bom Governo (2004), 50 Poemas de Carlos Nejar (2004). Seus trabalhos recolhidos em antologias nacionais e internacionais.
É colaborador da Revista Colóquio/Letras, de Lisboa, e de inúmeras revistas e jornais do País; é membro do PEN Clube do Brasil.
Carlos Nejar em recente viagem à Lisboa apresentou a conferência “Cecília Meireles e o Mar das Descobertas”, na Casa Fernando Pessoa. Na conferência Carlos Nejar destacou o vínculo de Cecília às raízes portuguesas, relacionando o mar de Cecília e o de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) e o mar de Sophia de Mello Breyner Andersen.
Crédito Imagem;www,fabricadosblogs.blogspot.com(2009)