Do artista o cinzel lusente
Nunca imaginou beleza
Como em ti, realidade
A mostrou a Natureza.
Teus cabelos negrejantes,
A côr do ebano excedem;
A teus olhos quem resiste
Quando seus tiros despedem?
Quando nos prados ondeia
A messe a loura madeixa,
Ou na côma da floresta
A leve brisa se queixa:
Quando o regato sussurra
Entre os seixinhos do leito,
Ou quando a terna rolinha
Solta queixumes do peito:
Vejo no campo teu rosto,
Na floresta o teu sorrir
No regato os teus suspiros,
E na rola o teu carpir.
Ah! se o bárbaro destino
Commigo uma vez risonho,
Tornasse em doce verdade
O que é fementido sonho:
Eu em mágico delírio,
Eu da gloria fascinado,
Jugára pisar o solo
Das estrelas marchetado.
A. T. de Macêdo,
em Revista dos Açores, Ponta Delgada, 1851-53.
Macêdo, António Teixeira de, (?-1887), Secretário-geral administrativo das ilhas, autor de Traços de História Contemporânea – 1846/47 [Maria da Fonte/Patuleia], (Porto, 1880).