Escreveu Dilvo Ristoff:
“A decisão da Comissão de Implantação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), de tornar obrigatória a disciplina de literatura catarinense para os estudantes do curso de Letras da nova instituição merece ser comemorada. Ela representa uma sinalização inequívoca da nova instituição sobre a importância da valorização da nossa arte e de nossos artistas, de nossa poesia e de nossos poetas, de nossa literatura e de nossos escritores. É claro que nos cursos de Letras sempre houve e há espaço para a literatura brasileira originária de todos os estados, mas a preocupação natural em garantir o conhecimento de textos canônicos raramente permite que haja tempo suficiente para que se conheça, de forma sistemática, o que existe de produção literária no nosso entorno, excetuadas, é claro, as obras de um ou outro autor que, por razões muito especiais, tenha conseguido projeção nas grandes metrópoles brasileiras. Diante disso, o que se constata é que, mesmo entre estudantes de Letras, pouco se conhece sobre o que está sendo produzido no nosso Estado. É lamentável constatar que é possível graduar-se em um curso de Letras em Santa Catarina sem ao menos conhecer os principais autores e obras literárias produzidas no Estado. Ao tornar obrigatória esta disciplina no seu curso de Letras, a UFFS não apenas assume um compromisso de mudar esta realidade, mas dá um passo importante rumo à consolidação de uma identidade literária catarinense.
O que a UFFS está propondo, portanto, é inovador no sentido de que reafirma a compreensão compartilhada por muitos estudiosos das letras brasileiras, qual seja a de que, em um mundo em que a força cultural das metrópoles nos dobra de forma implacável à sua vontade, aos seus valores e à sua agenda, somos sempre levados a estudar primeiro autores de renome, em geral de longe, de outros continentes, muitos deles com a sua qualidade literária já perdida em traduções malfeitas, e, por isso mesmo, sobra cada vez menos tempo e energia para ler e estudar aqueles que, pela sua proximidade, traduzem na sua literatura as experiências que falam ao nosso dia a dia.”
Fonte: Jornal Diário Catarinense,edição de 17 de julho de 2009 | N° 8500
Cabe informar que a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) quando implantada, em 2010,beneficiará cerca de 3,7 milhões de habitantes da mesorregião da Grande Fronteira do Mercosul, que compreende o norte do Rio Grande do Sul, o oeste de Santa Catarina e o sudoeste do Paraná, congregando um total de 396 municípios.
A UFFS será a única universidade pública dessa região e terá estrutura
multicampi com abrangência nos três estados do Sul. Além da sede na cidade de Chapecó (SC), a universidade contará ainda com os campi de Erechim e Cerro Largo (RS) e Laranjeiras do Sul e Realeza (PR).
O projeto de lei que cria a UFFS foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho do ano passado.
Trinta novos cursos devem ser criados para atender cerca de dez mil
estudantes de graduação, mestrado e doutorado, com abrangência nas áreas de tecnologia, agricultura familiar, licenciatura e saúde popular.
A UFFS é uma das quatro instituições federais de caráter internacional que estão sendo criadas no âmbito do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e tem como principal objetivo a promoção do desenvolvimento local e a integração dos países do Mercosul.
Oxalá que a nossa conquista sirva de exemplo para novas conquistas na outra margem Atlântica!
Nota: Dilvo Ristoff , doutor pela Universidade Sul da Califórnia, é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.Foi Pró-Reitor de Graduação da UFSC,Presidente do Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras. Ocupou ainda o cargo de Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação e de Diretor do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC.
Atualmente é Presidente da Comissão de Implantação da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS.