(Vincent Willem van Gogh 1853-90)
À NOITINHA
Oiço trindades a rezar baixinho
E dos campos regressa tôda a gente…
A noite desce, voluptuosamente,
Aconchegando as asas no seu ninho…
Há rubras pinceladas no poente,
Manchas de fogo, inundações de vinho…
A toutinegra canta no caminho
Enquanto a aragem corre, lèvemente…
Manchas de fogo, inundações de vinho…
A toutinegra canta no caminho
Enquanto a aragem corre, lèvemente…
E eu penso e cismo na tristeza imensa
Que envolve a noite imperturbável, densa,
Dos miseráveis, como cães sem dono…
Que envolve a noite imperturbável, densa,
Dos miseráveis, como cães sem dono…
E dos que vivem a chorar sòsinhos,
Aos tombos pela vida, sem carinhos,
Rezando à vida as orações do outono…
Aos tombos pela vida, sem carinhos,
Rezando à vida as orações do outono…
Albano Cordeiro, Regresso, Ponta Delgada, Tip. do Correio dos Açores, [1961].
Albano Botelho Cordeiro (1914-1964), funcionário público, poeta, natural da freguesia de Ribeira Seca, ilha de S. Miguel, residiu e trabalhou na atual cidade de Ribeira Grande, da mesma ilha onde veio a falecer.