Romancista, contista, poeta e dramaturgo, Alfred Lewis, nascido Alfredo Luís, em 1902, na ilha das Flores, emigrou para os Estados Unidos aos 19 anos de idade, em 1922, nos últimos anos da segunda onda de emigração portuguesa para aquele país. Lewis era filho de baleeiro, imigrante pertencente à primeira onda ligada à indústria baleeira americana, cujos grandes barcos faziam escala nos Açores para reabastecimento e recolha de tripulantes.
Se, como profissional, Lewis granjeou um certo êxito (formou-se em Direito e exerceu o cargo de Juiz Municipal), não foi menos o seu triunfo nas letras. Com efeito, Lewis tornou-se o primeiro e único imigrante português a conquistar a atenção do público vasto de língua inglesa. Ele é autor de contos publicados numa revista literária de prestígio nacional, Prairie Schooner, tendo estes relatos dramáticos, que descrevem uma sociedade multi-racial, composta de mexicanos, portugueses, arménios e anglo-americanos, merecido referência numa antologia de grande renome, The Best American Short Stories, dois anos seguidos, em 1949 e 1950. Lewis foi também poeta prolífico, com composições escritas nas suas duas línguas e publicadas em jornais e revistas de língua inglesa e portuguesa. Muitos desses poemas, que frequentemente sugerem a terra de origem idealizada pela saudade, foram reunidos postumamente, em 1986, por Donald Warrin, da Universidade de Califórnia, em Berkeley, sob o título sugestivo de Aguarelas Florentinas e Outras Poesias.
Mas foi a publicação do romance, Home is an Island, pela prestigiada editora Random House, em 1951, na mesma colecção e no mesmo ano em que saíram romances de grandes autores norte-americanos como William Faulkner e J. D. Salinger, que lançou Lewis para a ribalta do reconhecimento nacional e o consequente estatuto do autor luso-americano, imigrante, mais importante do século XX. Romance autobiográfico cujo protagonista jovem está prestes a emigrar para a América, Home Is an Island descreve a vida numa pequena aldeia nos Açores, no princípio do século XX.
Este romance mereceu mais de oitenta recensões em alguns dos jornais mais influentes nos Estados Unidos. O New York Times declarou que, “O estilo de Lewis e a qualidade da narrativa são refrescantes. Algumas das suas passagens descritivas, de uma simplicidade cristalina e ricas em imagens, transmitem o lirismo da poesia.” O Chicago Sunday Tribune acrescentou que, “É o tipo de livro que delicia. O Sr. Lewis conseguiu transmitir de forma bem-sucedida os `sentimentos’ das pessoas simples que ainda vivem em comunhão com a natureza…”; enquanto o San Francisco Chronicle asseverava que “o romance é um esforço pioneiro deste grupo em particular,” referindo-se aos luso-americanos, terminando com a esperança de que Lewis “viesse a inspirar outros descendentes de Camões . . . a empunharem a pena, a fim de explorar e relatar a história dos pioneiros portugueses na Califórnia.”
Na contracapa de Home is an Island, Lewis promete uma sequela que colocaria o protagonista na Califórnia, permitindo assim explorar as experiências dos portugueses na sua pátria adoptiva. Essa narrativa, The Land Is Here, passou por várias metamorfoses, ao longo de muitos anos, mas nunca foi publicada. No entanto, muitas das personagens e o fio condutor do enredo foram integrados em Sixty Acres and a Barn, publicado postumamente em 2005 pela Universidade de Massachusetts Dartmouth (local onde se encontra o espólio literário do autor). A intenção de Lewis parece clara: homenagear as almas corajosas que haviam deixado para trás família, amigos, todos os vestígios da sua antiga existência, com o intuito de trocaram tudo por uma nova vida na América que então era vista como “Terra Prometida,” como se lê em Home Is an Island.
Sixty Acres and a Barn é um Bildungsroman ou romance de formação que conta a história de Luís Sarmento, imigrante açoriano que encontra na América um espaço de tolerância, prosperidade e realização amorosa. Este pioneiro tratamento literário da agro-pecuária é levado a cabo de uma forma memorável, numa prosa ao mesmo tempo lírica e realista, onde se depara com a representação de obstáculos enfrentados por uma comunidade portuguesa que vive um tanto isolada entre duas culturas. Sixty Acres mantém muitas das qualidades de Home is an Island, incluindo a sua prosa lírica, mas transmite também a dura realidade da vida dos portugueses naquele lado do Atlântico, por volta de meados do século XX. Dessa forma, o romance constitui uma contribuição valiosa para as letras étnicas da época pós-guerra, tornando Lewis o precursor de outros ilustres escritores luso-americanos, embora já da segunda e terceira gerações, como Julian Silva, Katherine Vaz, Frank X. Gaspar e Charles Reis Felix.
Na realidade, o apelo à criação de uma literatura luso-americana, em inglês e ao mais alto nível estético, feito pelo San Francisco Chronicle, só foi correspondido décadas depois, nos anos 80, por Julian Silva, com o seu excelente romance, The Gunnysack Castle, e Frank X. Gaspar, com a sua colecção de poemas, The Holyoke; nos anos 90, quando Katherine Vaz publica Saudade, Mariana e Fado & Other Stories, e Frank X. Gaspar dá à estampa Leaving Pico, sendo este o primeiro romance luso-americano, depois de Home Is an Island, a ser recenseado no New York Times; e, nesta década, com as memórias e o romance de Charles Reis Felix, intitulados, respectivamente, Through a Portagee Gate e Da Gama, Cary Grant, and the Election of 1934.
Frank Fontes Sousa was born in the Azores, having immigrated to the United States at the age of nine. He is Professor of Portuguese and Director of the Center for Portuguese Studies and Culture (http://www.portstudies.umassd.edu/ ) at the University of Massachusetts Dartmouth. He is the author of O Segredo de Eça (Lisbon, Edições Cosmos, 1996) and general editor of the Portuguese in the Americas Book Series. He is on the Board of Directors of the Massachusetts Foundation for the Humanities, and is a Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
NOTE: “Alfred Lewis(1902-1977), Fundador do Romance Luso-Americano” by Frank Sousa” was first published on this blog Comunidades on November 17, 2008. This month of February, Comunidades celebrates its third anniversary, and to commemorate this date we will be reviewing some original versions of texts published here in the last three years.
IB