Hoje na Sábado escrevo sobre A América do Norte, de Alfredo de Mesquita (1871-1931). Trata-se de um peculiar livro de viagem que omite a sua datação. No prefácio, Um Tocqueville Português, Onésimo Teotónio Almeida estabelece nexos com factos históricos e fixa em 1904 a data em que terá sido escrito. A primeira edição é de 1916, não sendo explicado o longo intervalo entre o provável momento da escrita e a publicação do volume, mas é de admitir que parte (ou mesmo a totalidade) do conteúdo tenha sido dado à estampa num dos muitos jornais em que o autor escrevia. Jornalista, biógrafo e ficcionista, Mesquita ingressou na carreira diplomática após o advento da República, ocupando postos em Constantinopla (actual Istambul), onde teve um papel decisivo no auxílio aos judeus durante a Segunda Guerra Balcânica, Durban, Melbourne, Roma, Nova Iorque e Paris. Este portentoso relato da América coincide com os últimos anos da monarquia portuguesa. Não admira o fascínio face à liberdade do Novo Mundo, ao instinto de ordem e espírito de organização, ao respeito pela prosperidade. Mesquita enaltece as convicções e a tenacidade do povo, bem como o direito à felicidade «ao sabor das suas próprias exigências». O capítulo dedicado aos hotéis é de antologia. Noutros, discreteia com à-vontade e empatia sobre temas tão diversos como a natureza, os costumes, a religião, a economia, a política, a educação, a arquitectura, os transportes, a imprensa, o teatro, etc. As ilustrações são de Joaquim Guilherme Santos Silva, artista plástico também conhecido por Alonso.
Etiquetas: Crítica literária, revista Sábado
Texto aqui publicado com autorização do seu autor, Eduardo Pita. http://daliteratura.blogspot.pt/2014/05/alfredo-de-mesquita.html