ALMA AÇÓRICA (30) Bailes, bailinhos, assaltos, batalhas de limas, agora de novo “guerra” da farinha (Pico), corsos e mascarados. Estes últimos, pelo menos na década de sessenta, eram à noite, adultos respeitáveis que se aprimoravam nos trajes, “corriam casas” que os recebiam e nunca destapavam a cara… às vezes, retratavam acontecimentos célebres da época como ida do Homem à Lua e, nesse ano, vi “astronautas em terra…”. Facto curioso era que ninguém queria ser reconhecido e, por isso, os mascarados saíam de casas de amigos (as) e recolhiam-se ainda em outras casas de outros (as) amigos (as)…eram seguidos pela rapaziada que, sem sucesso, apostava entre si nas identidades…era tempo de “estar” mais do que “viver”…Hoje, como ontem, “nós não temos medo que o mar nos alague ou de que a terra nos falte: temos sempre presente, como salutar advertência, a sensação de que o Mundo é curto, e o tempo mais curto ainda”…Nemésio, pois claro!
ALMA AÇÓRICA (31) Porque ainda é Carnaval…na década de sessenta, chamarritas, bailes de roda…”senhores ao bar”, para “brindar as senhoras” (quase sempre no fim das marchas e foxtrot e quando um chocolate custava 1 escudo)…outrossim, orquestras (o melhor eram os tangos e as valsas…) e depois os “conjuntos” (hoje grupos)…meninas e suas mães sentadas à volta da sala, os que iam “puxá-las para dançar” e levavam uma nega, chegavam ao sítio dos rapazes (perto do bufete) e logo havia sempre um que lhes davam caricas de cerveja, significando que tinham visto a “tampa ou baixa”…os mais descarados corriam a sala em vénias até terem “sorte” , às vezes, não tinham mesmo…com os “conjuntos a estória” passou a ser outra… agora exigia-se mais “slows” …tempo de outro “baile de roda”… mas também de Beatles ou do “yé-yé”, da música que aparecia na Base das Lajes e que chegava primeiro ao Grupo Central…
ALMA AÇORICA (32) Aconteceu numa das nossas ilhas …um Pai preocupado com a desocupação do filho pediu emprego a um empresário, tendo este acedido…passados 3 dias de trabalho o rapaz nunca mais voltou…o empresário procura saber junto do Pai o motivo da ausência. Responde o Pai, meio encavacado: o meu rapaz julgou que ia ter um “lugarinho de botar sentido” (leia-se de não se matar muito…)…a bruma, por vezes, dá-nos “vagar”…
ALMA AÇÓRICA (33) SEM juízos de valor…Na minha escola levar uma reguada do Professor (a) ou uma briga no recreio não eram “traumatismo psicológico” ou “bullying”. No primeiro caso, era ficar com receio do Professor(a) dizer aos pais e, voltar a ser repreendido, no segundo caso eram coisas de “rapazes”… Tudo muda e hoje, há novos problemas. Discute-se a escola dos processos versus conteúdos…… nesse tempo, ouvi um Professor dizer a quem fazia um barco de papel na sala: “vê lá se no fim do ano o barco vai para o fundo com o chumbo” (chumbar o ano era perder ou ter que repetir)… mais duras mas não traumatizantes, ao tempo, eram algumas “indisposições” do Professor(a) quando dizia: “para burros só vos faltam as penas”…ao silêncio da turma querendo instar o Professor a dizer que esses animais não tem penas, seguia-se de imediato, o “veredicto” professoral: “pois é, já não vos falta nada”… outros tempos…
ALMA AÇÓRICA (34) Há 12 anos estive na ilha Gran Canária e vi janelas de guilhotina em casas da zona Norte da ilha. Afinal este elemento arquitectónico, pelos vistos, existia fora dos Açores e numa ilha povoada há muito mais tempo…a propósito de influência romana nas edificações, continuamos em algumas ilhas a falar do “sagão” (saguão)… antes da crise sísmica de 1964 conheci casas de meio urbano que tinham forno de lenha e curiosa era a expressão de se guardar na “loja das achas” (quarto da casa) madeira para usar no forno…mais conhecida e quase enigmática era chamar “ministra” à mesa de cabeceira …
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