ALMA AÇÓRICA (38) Agora que as várias dezenas de grupos de romeiros de S. Miguel estão em rotas de sacrifício e penitência quaresmais, ainda que se saiba tratar-se de um culto mariano, é discutível a sua origem. Descritas romarias em Gaspar Frutuoso, ligadas às erupções vulcânicas de Vila Franca do Campo dos séculos XVI, certo é que são conhecidas, como as vemos, desde o século XIX…Aliás, sismos e vulcões sempre provocaram a necessidade da proteção divina como se vê em muitas quadras cantadas por foliões do Espírito Santo…Um dos maiores, senão o maior, terramoto até hoje conhecido, entre nós, foi o de 1757 que matou 1034 pessoas nos então concelhos de Calheta e Topo…Há pouco tempo, conheci uma casa-solar, na Ribeira Seca de S. Jorge, recuperada logo após esse terramoto. Curioso como no século XVIII quem a reconstruíu, usando alvenaria de pedra, ergueu a ermida lateral à habitação em lajes com travamento anti-sísmico, mais do que “casa de alto e baixo”, esta casa com pátio interior (atrium) tem um sistema colector (calhas em pedra) de águas pluviais que desembocam na cisterna, verdadeiro impluvium romano…também lá estava, numa dependência externa à habitação, o lugar da charrete ou do charabã (do francês char-à-bancs) e uma canoa com remos, típica das casas cujos proprietários também se deslocavam para outros lugares da ilha pela orla costeira… Somos de lava “temerária”, que nos torna timoratos, apaziguada com a omnipresença do mar, que nos faz intimoratos…
ALMA AÇÓRICA (39) Na Física elementar aprende-se que o espaço pode ser obtido a partir da velocidade e do tempo. Não é deste espaço nem deste tempo, nem dos tratados na Teoria da Relatividade, que nos reportamos a seguir. Conheci um velho pescador para quem o espaço era o horizonte que a sua vista alcançava, olhando e “considerando” o céu e as nuvens, numa atitude reflexiva ligada à contemplação,…… inscrita no “sideratio” ou raiz latina do verbo…Após essa paragem de olhar sideral, fazia a sua previsão meteorológica acerca do tempo dos próximos dias. Entre nós a experiência acumulada deu este conhecimento a muitos, daí, por exemplo, a ligação de chuva ao “chapéu no pico do Pico”, “Santa Maria à vista chuva na crista” e muitas mais expressões…Mais elaborada, nesse “suserano do mar”, era a ligação à mudança de quadrante de vento e à agitação marítima…”amanhã vamos apanhar mar de popa”, ou, “mar de proa” e menos vulgarizada a expressão “mar de agulha”, como querendo invocar o mar “picado” e lateral às embarcações…mesmo sem ser no tempo dos romanos, o sal do mar continuava ligado ao salário, à vida e sabedoria salgada deste açoriano…
ALMA AÇÓRICA (40) Ouvia sempre neste dia 1 de Abril que se podia pregar uma peta, ou “boga” (hoje, expressão ligada ao mundo dos estupefacientes), quer se tivesse ou não o “dente ralo”, isto apesar de meu pai dizer que melhor era aproveitar para condensar no código deontológico pessoal a locução “estimo Platão, mas estimo mais ainda a verdade” (Amicus Plato, sede magis amico veritas”… Longe de pensar nisso esteve o régulo Zixaxa (Xixaxa) que desterrado na Terceira com Gungunhana, depois de ébrio fabulava, ao ponto de ter originado a expressao “conversa de chacha”…
2012
Imagens de
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