ALMA AÇÓRICA (42)
As origens dos CTT remontam a 1520, ano em que o Rei D. Manuel I criou o primeiro serviço de correio público de Portugal.
Nos Açores foi-se instalando o Correio-Mor e o Correio Marítimo que ligou Portugal Continental, ao Brasil e outras colónias… Relato hoje uma história da década de sessenta em plena Guerra do Ultramar…Num domingo presenciei um daqueles jogos de futebol em que a equipa favorita começou a perder no início do jogo. Depois de um “corner” (pontapé de canto) um “back” (defesa) retirou do caminho a possibilidade do empate, não sem antes ter havido disputa rija de bola com o “forward” (avançado-centro ou ponta de lança)…reflectindo a génese do desporto-rei, era tempo de uso de termos em inglês no futebol. Neste dia, o “foward”, mais velho e corpulento, da equipa favorita, achou que resolvia o jogo com “duas galhetas” ao “back”, mais novo, que de modo limpo o marcava…jogo estragado com a vítima a sangrar…ironia muito pesada do epílogo desta história, o avançado-centro, carteiro, alguns anos mais tarde, passando na freguesia de origem do “back”, viu a bandeira branca colocada, lateralmente, no muro da casa deste, sinal que queriam falar com o carteiro; este foi entregar à mãe do “back” o telegrama fatídico que trazia a triste notícia da sua morte na Guerra do Ultramar…Não sei se foi esta a razão, mas nunca mais vi o carteiro a jogar futebol!
ALMA AÇÓRICA (43)
Com 15 anos, em Abril de 1974, estava no 6º ano alínea f) {Matemática, Fis-Química, Biologia-Geologia, Geografia, Filosofia e Organização Política e Administrativa da Nação} hoje, 10º ano (Curso de Ciências e Tecnologias)…na manhã do 25 Abril, a 1ª aula, foi de Geografia, “ministrada” por um velho professor à beira da reforma…A aula, cedo começou e cedo terminou…homem bom para aquele tempo de rigidez e ambientes de “capa de chumbo” ou de “céus abalmados”, próprios do Estado Novo, o professor veio à janela da sala de aula e vendo escrito num muro, em frente, “25 de Abril- Viva a Liberdade e a Democracia”, empalideceu, pôs as mãos na cabeça e exclamou: “não acredito que isto me esteja a acontecer”… “podem sair”…Para nós, “cheios de sangue na guelra”, foi tempo de ouvir notícias o resto da manhã, deslumbrados, atordoados e com a sensação que tudo ia ser diferente. E foi: os pais deixaram os “apertos de alma” por perder filhos na guerra, escrever, falar em grupo, reunir, debater, discordar e, se fosse hoje, “facebokar” deixaram de ser crimes e actos sujeitos a perseguição…outros tiques rebuscados da ditadura tinham sido: “tirar licença” para usar isqueiro (neste caso um ínvio caminho de defesa da fosforeira nacional…), os funcionários públicos só podiam casar entre si, os professores “agregados” (provisórios) não ganhavam nas férias….Por tudo isso, e muito mais, resumido ou “zipado” na LIBERDADE, valeu a pena e continuará a valer!
Imagem de http://articles.theuflonline.com/images/articleimages/75/1289537520-mailman.jpg