ALMA AÇÓRICA (48)
As Festas do Espírito Santo marcam, indelevelmente, a vida dos (as) açorianos (as) aqui e além-mar. O último Congresso, na Terceira, sobre o tema reforçou o cruzamento de saberes e experiências sobre este culto. Pelo “efeito de força e sentido” das Festas do Divino fala-se na candidatura a património imaterial. Sempre achei curioso o facto de em Rabo de Peixe, pelo menos no Império da Caridade, não haver coroação na Igreja, do cortejo só transportar a bandeira e de haver um hino próprio “Hino da Caridade” em vez do hino habitual do Espírito Santo…No final do século XIX, o Partido Progressista fundou este Império da Caridade e também a Filarmónica Progresso do Norte, na agora Vila de Rabo de Peixe…Outra marca distinta e ímpar, noutra ilha, são os carros das bandeiras na freguesia de Rosais (S. Jorge) e os próprios foliões cujo cantar é menos dolente do que no resto das ilhas dos Açores. Os dois “cavaleiros” que, ladeiam aquele que ao centro mostra ao povo a maior “roda de rosquilha”, levam rosquilhas mais pequenas ou massa e “deixam” os populares tirarem no decurso da dança essas rosquilhas. Porém, segue-se uma corrida do cavaleiro atrás do popular e, se este é logo apanhado pelo toque da vara do Espírito Santo tem de devolver a rosquilha ao cavaleiro, se a “corrida” demora, então o popular “ganha a oferta”…Depois, lá seguem ao som do tambor e do refrão: “E pra trás e pra diente, eu agora vou cantar ao Divino Esprito Santo” ou então “E pra trás e pra diente, eu hei-de fazer-te andar, as solas dos teus sapatos, eu hei-de fazê-las gastar” …É a Festa da abundância, por isso se ouve amiúde: “come quanto queiras”!
ALMA AÇÓRICA (49)
As festas do Espírito Santo, também já foram as maiores regalias das nossas gentes, associadas ao “folguedo” de bailes populares… Ao que se sabe o prelado diocesano acabou com os bailes, mas ficaram as folias, com cantigas apropriadas e reproduzidas nos “Cantos Populares do Archipelago Açoriano” de Teófilo de Braga (um dos nossos Presidentes da República)…Pelo menos em S. Jo…rge, outras quadras menos conhecidas e não publicadas, de autores desconhecidos, invocam a proteção do Divino contra sismos, vulcões e calamidades:
Santo’elmo e o Espíito Santo,
com S. Jorge soldado forte,
com a nossa terra a tremer tanto,
por toda a costa Norte.
Por vezes, relatam mesmo a força da natureza, neste caso na formação da Fajã da Caldeira de Santo Cristo (a única das ameijôas e a das ameijôas únicas…):
Ai por toda a costa Norte
A terra caiu do ar
Foi assim que ficou feito
Santo Cristo do mar.
José Contente
NOTA: Arte da ‘Colecção Vera Sabino nos Açores- Abril de 2004′
http://vera.websabino.com/Producao/Imagens%20Geral/a%E7ores7.jpg