Deslizaste, inteiro,
pela memória dos nossos dias de plenitude,
quando os nossos olhares se incendiavam
ao compasso do amor.
Alvorecias na madrugada,
o sangue a galope,
o incenso intensamente perfumado da vida
a esconjurar todas as sombras.
Quantos anos tínhamos?
O mundo parava ao nosso comando,
sem tempo.
Apenas uma luz cintilante prometia a infinitude,
afinal tão curta.
Agora a dor incurável morde
cada segundo da viagem
rumo à solidão enovoada
e, ainda assim,
tu, ao sabor do Fausto,
Delicadamente para ti, recordas
– vives? –
um sopro de música…
Alzira Silva, in O Teu Olhar Anoitece, Ponta Delgada, Nova Gráfica L. da, 2015.
Silva, Alzira Maria Serpa (1955) professora, jornalista, ativista cultural e política, nascida
na ilha das Flores trabalhou na cidade de Ponta Delgada e na da Horta onde tem
residência.
