Tal como no resto de Portugal, o Ano Bom , nos Açores, é o ano que começa ou vai começar. A expressão Ano Bom , neste sentido, não tem antónimo; traduz apenas o desejo de que o ano que entra venha a ser bom . Também se diz Ano Novo , mas, neste caso, por oposição a Ano Velho, que é o ano que termina. Corre entre o povo que todos os anos, à meia-noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro, o Ano Novo e o Ano Velho se defrontam algures numa luta de morte, da qual sai vencedor, sempre, o Ano Novo. Não é uma crença, mas uma espécie de fábula popular .
Do mesmo modo que no Continente, chama-se nos Açores Noite de Ano Bom a noite de passagem de um ano a outro e Dia de Ano Bom o 1º dia do ano. Nas freguesias rurais açorianas não é costume festejar-se a Noite de Ano Bom à mesa, com uma ceia especial. No Dia de Ano Bom é que a ementa do jantar deve ser melhorada, pois é crença que aquilo que se fizer no primeiro dia do ano se fará da mesma maneira durante todo o ano. Por isso também é que se deve estrear roupa nesse dia, para que o mesmo aconteça muitas vezes ao longo do ano. O antigo costume de as pessoas se presentearem com romãs pela altura do Ano Bom correspondia, por sua vez, à crença popular segundo a qual comer romãs no Dia de Ano Bom fazia que se tivesse dinheiro o resto do ano. Esta prática já caiu em desuso nos Açores.
Outra crença do povo dos Açores é a de que o tempo que faz nos doze primeiros dias de Janeiro corresponde ao que fará nos doze meses do ano seguinte, pela mesma ordem, podendo assim ajuizar-se por eles como vai ser o estado do tempo até ao fim do ano. Esta crença concorre com a de que o estado do tempo ao longo dos doze meses do Ano Novo é idêntico ao que fez desde o dia de Santa Luzia até à véspera do Natal do ano anterior, ou seja, de 13 a 24 de Dezembro, contados também estes dias. Esta crença está fixada no seguinte provérbio:
“Assim como vires o tempo
de Santa Luzia ao Natal,
assim estará o ano
mês a mês até final”
(do adagiário popular micaelense).
Ainda outra crença relacionada com o dia de Santa Luzia e a previsão meteorológica para o Ano Bom é a de que o vento soprará predominantemente em cada ano do mesmo quadrante de onde tiver soprado no dia 13 de Dezembro do ano anterior. Assim diz o seguinte provérbio, colhido na ilha de S. Jorge:
“No dia de Santa Luzia,
onde o vento fica,
de lá aporfia”.
Esta crença também se aplica ao dia de Santa Catarina (25 de Novembro).
Na noite de Ano Bom os parentes e amigos visitam-se para se desejarem bons anos. Também é costume formarem-se ranchos que vão de porta em porta tocar e cantar aos donos da casa com o mesmo fim. Existe, para o efeito, um reportório tradicional de cantigas com as respectivas melodias. As cantigas podem aludir à própria visita que se está fazendo :
“Já chegou à vossa porta
quem havia de chegar.
Todos são amigos vossos
que vos vêm visitar”
(do cancioneiro popular da ilha das Flores),
ou exprimir votos de Bons Anos :
“Anos bons e tão bons anos
Deus lhos dê de melhorado |…|”,
etc.
(canta-se em várias ilhas e, com variantes, também no Continente);
no entanto, a maioria das quadras que se cantam nesta circunstância alude é ao nascimento do Menino Jesus, certamente por ainda estar em curso o ciclo das celebrações natalícias. Exemplo:
“Oh meu Menino Jesus,
cobris o rosto com um véu.
Nós cantamos cá na Terra,
os anjinhos lá no Céu”.
As cantigas, em alguns casos, são improvisadas ou adaptadas adrede. Acontece também um ou outro rancho preparar, com antecedência, melodias originais para essa noite, mas isto só raramente; o mais frequente é aproveitarem-se as melodias tradicionais, mesmo para cantigas feitas de improviso.
(Muitas cantigas de Anos-Bons são as mesmas que se cantam pelos Reis * e às Estrelas *).
EDUÍNO DE JESUS
Nasceu nos Arrifes, S. Miguel, Açores (1928).Foi Professor na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa em 1976.Regente da cadeira de Teoria da Literatura na Universidade Nova de Lisboa entre 1980-2000.Escritor.Ícone da literatura açoriana.
Publicou três livros de poesia: Caminho para o Desconhecido (1952); O Rei Lua (1955); A Cidade Destruída durante o Eclipse (1957); e a peça de teatro Cinco Minutos e o Destino (1959) e “Os Silos do Silêncio” Poesia 1948-2004(2005).
Autor de centenas de artigos dispersos em suplementos culturais,revistas e periódicos por todo o País e no exterior. Presente em diversas antologias de poesia. Foi dinamizador da Casa dos Açores de Lisboa. É um poeta de mérito reconhecido, sendo respeitado e admirado em âmbito nacional e internacional.
Eduíno de jesus: Um nome que dignifica a Literatura de Portugal.
Crédito Imagens:1. Natal em Ponta Delgada,_ Gabinete Multimédia Açores, 2009;
2. Eduíno de Jesus – Eduardo Resendes,fotógrafo do Jornal Açoriano Oriental