AÇORIANIDADE – 76
Seleccionado e declamado por Olegário Paz
Anseio
Quem me dera, quem me dera
Ter umas asas… partir
Num dia de primavera,
E voar… subir… subir…
Quem me dera ser condor,
Ter umas asas assim…
Que sem ser o teu amor
Nada tenho dentro em mim!
Ter umas asas quem dera,
Tão leves como as do vento…
Ir ao País da Quimera
Esmagar o meu tormento!
E pela noite calada,
À luz fria do luar,
Ir contigo, minha amada,
Nossas mágoas espalhar!…
Ir por montes e campinas,
Por valados e montanhas,
Ouvir vozes cristalinas,
Em melodias estranhas!…
Galgar serras, ver poentes.
Pelo mundo, em desalinho,
E banhar-me nas nascentes
Que encontrasse no caminho!
Ir ver correr os ribeiros,
Pela vertente inclinada,
E, à sombra dos castanheiros,
Repoisar a caminhada!
E, depois, em devaneio,
Num idílio encantador,
Bem juntinho do teu seio,
Segredar-te o meu amor!…
Lopes de Araújo
in Miscelânia de Prosa e Verso, Carlos Tomé, Ponta Delgada, 1943.
José Maria Lopes de Araújo (1919-1993) empregado de escritório, jornalista, poeta, era natural de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, onde residiu, trabalhou e morreu.