ANTERO DE QUENTAL
(Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842 – 11 de Setembro de 1891)
Roda Mental (*)
… há que tempos fazemos parte do tempo
espantados pelo tremular da rotina eviterna
da demora universal vestida de futuro…
– quem criou a roda mental, o arco-íris ideológico
e os pontos cardeais da ideia-caravela
à deriva no marulho do nosso navegar-errante?
Desconheço o que faz a pequenez humana
acoitada na ‘muralha da china’ duma Espera
na escuta do eco magoado da história…
… sinto-me crepitar no útero do meu carvão mental:
sombra! – és o silêncio da escuridade dos deuses,
pronto-socorro dos atropelados pela rebeldia da luz…
… sinto-me herdeiro distraído do pecado original
(desobediência que nos devolveu à natureza):
faço amor com palavras em lençóis do silêncio
sou remendo cerzido no pano da utopia
vaivém nas entrelinhas do tear da verdade
a tecer claridades nos faróis da miopia…
João-Luís de Medeiros
*Desabafo poético inspirado pelo ‘trágicorajoso’ episódio anteriano, em 11 de Setembro de 1891 – gesto por muitos considerado como o verso final do soneto que o filósofo-poeta teria guardado até ao (seu) último dia…
—————————
João-Luís de Medeiros
(Poeta & Guest-Columnist da Diáspora lusófona)
Rancho Mirage – California, USA
Imagem de http://www.vidaslusofonas.pt/antero_de_quental.htm