ANTERO
O reino que procuro é perdido
e vago, sombra de um sonho inquieto
em que me invento e me desfaço.
Ilhas que foram minhas, as despeço
por sobra de matéria e de concreto
– estorvo de lava, sal, um sol finito
ferindo o puro brilho da Ideia.
Ao rosto que desenho sobre o vidro
responde um outro de perfil incerto
– anjo, demónio, cavaleiro ou morte.
E, neste jogo a que me entrego e lanço,
um fogo me consome em seu amplexo:
fosse eu como os demais, suor e sangue
e sexo!
Urbano Bettencourt Antero (com desenhos de Alberto Péssimo) Arganil, Editorial Moura Pinto, 2006
Manuel Urbano Bettencourt Machado (1949), professor, escritor, poeta. É natural da ilha do Pico e reside em Ponta Delgada.
Poema recitado por Olegário Paz.