Humanismo e Cordialidade
Era esperada a morte de Antonio Olinto, com a indisfarçável tristeza dos seus muitos amigos e admiradores, no Brasil, em Portugal e noutros países da Europa e da África, onde viveu e desempenhou funções diplomáticas e pedagógicas que deram lugar a livros de ficção e poesia, a ensaios, crônicas e artigos em jornais e revistas que o evidenciam na amplitude da sua cultura e na dimensão da sua sensibilidade.
Conheci-o, nos idos de 60, numa das minhas primeiras viagens ao Brasil, no Centro Histórico do Rio de Janeiro, ainda repleto de memórias literárias, jornalísticas e políticas, que reviviam nas evocações de Luís Edmundo e, sobretudo, no sarcasmo escaldante de Agripino Grieco. Antonio Olinto surgiu quando falávamos, eu e Godim da Fonseca a propósito de Rimbaud, do soneto acerca das Vogais, da tradução de Augusto Mayer e da tradução do próprio Gondim. Nessa altura Antonio Olinto – arrostando o nervosismo contido de Gondim – informou–me da existência de uma outra tradução de Ledo Ivo. As minhas relações com Antonio Olinto estreitaram–se na altura em que Dário de Castro Alves permanecia à frente da embaixada do Brasil em Lisboa. Permitiu–me conhecer a sua diversificada erudição e o seu espírito de cordialidade. Em julho de 2000 estive no Edifício Itaoca, na rua Duvivier, 43, em Copacabana, no apartamento de Antonio Olinto e Zora Seljan, sua inseparável companheira. Os artigos de opinião de Antonio Olinto no Jornal de Letras eram modelares. Quase que obedeciam à medida e disciplina de um soneto de Camões ou Bocage, de Raimundo Correia ou Ledo Ivo. Estes textos que têm a marca do homem culto e do homem de afetos constituíam abordagens aos valores culturais, estéticos, ideológicos e ao conteúdo humano das grandes figuras e das grandes obras da literatura brasileira, das literaturas da Europa e até dos Estados Unidos. Mereciam ser antologiados num volume para acentuar a presença intelectual de Antonio Olinto.
Atrevo–me a sugerir para a concretização desta tarefa o acadêmico, escritor e mestre da pedagogia e de pedagogos, Arnaldo Niskier amigo de eleição de Antonio Olinto, diretor do Jornal de Letras; e Elizabeth Almeida – ao longo dos anos, de uma extraordinária dedicação a Antonio Olinto – , editora do Jornal de Letras e presidente do Instituto Cultural Antonio Olinto. Perante os desafios inadiáveis da Educação e da Cultura do Brasil esperamos que se mantenham os objetivos do patrono que adotou como lema: continuar, continuar, continuar…sempre.
ANTÓNIO VALDEMAR
Nasceu na ilha de São Miguel, Açores. Iniciou a sua carreira de jornalista no «República», em 1957. Trabalhou depois no «Diário de Lisboa», «Diário de Notícias», «A Capital», «Vida Mundial» e «O Primeiro de Janeiro».
É também professor de jornalismo e dirigiu, durante muitos anos a galeria Diário de Notícias, no Chiado, onde organizou dezenas de exposições de escultores, pintores e ceramistas. Entre os seus livros publicados contam-se «Ser ou Não Ser Pelo Partido Único», «Garrett, vida e Obra», «Chiado: o Peso da Memória» e «Nemésio, sem limite de idade», entre outros.
Antonio Valdemar é Sócio efetivo da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa.
__________________________________
Aconteceu
Por Beth Almeida
Quando Zora nos deixou em 2006, fiz um texto em nosso Jornal de Letras, que dizia: Adeus Zora, agora com o falecimento de Antonio Olinto eu digo: continuar, continuar, continuar… sempre. Esse era o seu lema, viveu seus 90 anos com o firme propósito de fazer sempre mais, não parava, era só acenar uma viagem para fazer uma conferência ou para representar a Academia Brasileira de Letras em alguma cidade e ele era o primeiro a ser convocado, e lá íamos, ele com o entusiasmo de um menino que vai pegar o trem, afinal ele era o Menino e o trem, ou melhor, era o Menino do trem.
Beth Almeida é editora do Jornal de Letras e presidente do Instituto Cultural Antonio Olinto
_________________________________
Sobral, 12 de setembro de 2009, 6h15min
Meu querido Antonio Olinto:
Há pouco mais de uma hora, ao tomar conhecimento de que você partiu, se torna difícil escrever algo sobre ou para você. Embora tendo estudado sua obra, sua vida, sua terra, sua gente, não é fácil pensar que você não está mais entre nós. Recordo suas palavras de encerramento no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, pronunciado há exatos 12 anos: “Dirijo, por isso, a Zora, neste final de minha fala, uma frase também curta e simples: ‘Muito obrigado, Zora, por ter me feito escrever durante 42 anos’”. Vocês se reencontraram, aliás, parece até que vocês nunca se separaram e continuarão juntos. A Literatura Brasileira perde um grande romancista, poeta e crítico literário. Nós, seus amigos, perdemos uma figura exemplar, fiel, pura, na acepção da palavra. Sempre que falarmos na África, nas Minas Gerais ou que passarmos na Rua Duvivier, que reencontrarmos sua tão amiga e eficiente assessora Beth Almeida, que ouvirmos as palavras Literatura e Academia, lembrar-nos-emos de você e espero que essas lágrimas de saudade não nos banhem a face, pois você sempre foi e será alegria, gostava de festa, de comemoração, celebração. Parabéns, Mestre, por sua trajetória! Que Deus o tenha acolhido em festas, do jeito que você gostava!
Seu amigo
José Luís Lira