Em jeito de homenagem a um amigo
Ainda tentava digerir o desaparecimento de um familiar no Brasil, ido em jovem para aquelas Terras de Vera Cruz, precisamente em dia do Pentecostes, festa que o meu parente tanto amava, tendo levado mesmo, após a sua única visita que fizera a esta ilha do Arcanjo, uma coroa e bandeira de Espirito Santo que ofereceu à Casa dos Açores de S. Paulo, e eis-me que em dia da pombinha recebo a notícia do falecimento de um amigo de infância, que desaparece precocemente do meio de nós.
Trata-se de Pedro Gonçalves Ferreira Blayer, funcionário superior da Empresa de Eletricidade dos Açores desde a sua fundação, que sucumbiu a uma doença incurável, num curtíssimo período de tempo e que o levou a suportar estoicamente um sofrimento doloroso.
O Engenheiro Blayer era um amigo bom, simples e despretensioso, que cultivava a amizade até ao mais alto grau e que gostava de ajudar aos que o rodeavam, sempre de forma muito discreta com alto sentido de bem-fazer.
Veio adolescente a esta ilha, provindo da Vila das Velas de S. Jorge e aqui estudou e depois rumou ao Continente onde se formou pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). De regresso, foi trabalhar para a Direção Regional de Energia, ao lado do Engº Deodato de Magalhães e do Engº Luís Simas, onde aprendeu a gestão dos segredos da eletricidade. Aquando da constituição da Empresa de Eletricidade dos Açores, Blayer foi um funcionário sempre acessível e competente.
Desde criança que o acompanhei na amizade e quis o destino que, no dia do meu casamento, o Blayer, como convidado dos esponsais tivesse encontrado naquele evento a minha amiga Luisa, de Rabo de Peixe e ali mesmo eles começaram uma amizade que resultou num namoro, que depois os levou ao altar da Igreja do Senhor Bom Jesus daquela Vila.
Pedro Blayer adoptou Rabo de Peixe como sua terra, até ao derradeiro minuto da sua vida e exerceu a cidadania de forma ativa e responsável, participando nas listas para a Assembleia de Freguesia. Fez parte com a Luisa das equipas de casais que acompanham os jovens que pretendem contrair matrimónio religioso, e das equipas de Leitores, sempre com um sentido de prestar um serviço ao próximo.
No âmbito da solidariedade, Pedro Blayer fez parte do grupo dos fundadores do Lions Clube de Rabo de Peixe, chegando mesmo a ser seu Presidente e mais tarde Presidente de Divisão a nível da estrutura dos Açores, marcando com o seu empenho e dedicação a sua passagem pelos Lions de forma indelével, sendo notória e apreciada a sua competência como diretor de sessão das sessões daquele movimento leonístico.
Aquando da sua doença, eu tive muita dificuldade em o visitar, pois não tinha coragem para ver um amigo assim padecer. Recebeu-me em sua casa pela última vez no dia 25 de abril e fiquei esperançado que ele conseguiria vencer a doença, pelo que a notícia da sua morte foi de um grande impacto e comoção por saber do seu desaparecimento.
Quis o destino que eu estivesse muito longe da minha terra e não pudesse acompanhá-lo no seu funeral, mas fica para sempre registada a lembrança de um bom amigo que partiu precocemente mas que merece, que envie mesmo distante, esta minha singela homenagem em sua memória.
António Pedro Costa
21 de Maio de 2018
(Correio
dos Açores, edição de 23 de Maiio de 2018 )
dos Açores, edição de 23 de Maiio de 2018 )