António Quino refletiu sobre a evolução da literatura angolana
Correntes à Conversa aconteceu na tarde de 27 de Fevereiro com o angolano António Quino, organizador da coletânea Balada dos Homens que Sonham breve antologia de contos angolanos.
Um grupo expressivo e interessado na literatura angolano conversou com António Quino que começou por se referir à muita alegria que lhe dá ver o Correntes d Escritas ter um poder de mobilização forte e conseguir reunir tanta massa pensante na Póvoa de Varzim: Estou habituado a ver lotação esgotada nos campos de futebol e agrada-me ver tanta gente aqui neste encontro dedicado à literatura.
António Quino fez uma abordagem aos escritores da história da literatura angolana, começando pelo séc. XIX e nomes como José da Silva Maia Ferreira e Arsénio Castro, que tiveram uma passagem muito forte pelo Rio de Janeiro e Recife, e pelas leituras aí feitas, foram influenciados pelo romantismo brasileiro, que viria a marcar a sua escrita.
E com a chegada da imprensa a Angola, surgem também a impressão dos primeiros livros. Há a proliferação dos jornais, pelo que os prosadores angolanos aproveitam a imprensa para fazerem publicar as suas prosas.
Num segundo momento da literatura angolana, já no séc. XX, surge a geração Vamos Descobrir Angola, onde se incluem nomes como Agostinho Neto. O modernismo brasileiro e o neorrealismo português, que promulgava uma consciência contra o poder dominante, são aspetos fundamentais para estes escritores. São autores que buscam a liberdade na poesia, em particular na forma, tendo a preocupação de ir ao encontro do povo angolano.
António Quino lembra a defesa de Agostinho Neto: os nativos são educados como se tivessem nascido na Europa não conhecem Angola e olham a sua terra de fora para dentro Esta ideia foi o que fez esta geração fazer o volte face, sublinhou António Quino.
Chegados à atualidade, Quino refere que também se procura a rutura com o passado e que os escritores angolanos procuram um novo sentido estético e razão africanas. E dá como exemplo a defesa de Costa Andrade, poeta e prosador: A construção da identidade nacional passa pela dessacralização da língua portuguesa.