Nos anos oitenta, do século passado, vozes açorianas desembarcavam na
Ilha de Santa Catarina por obra da difusão oficial da cultura açoriana
promovida pelo Governo Regional dos Açores e da Universidade dos
Açores. Entre tantos títulos e nomes pertencentes desde há muito ao
cânone literário açoriano descobri o escritor Daniel de Sá. Descobri,
também, junto a um elenco de autores que dão vida à literatura
açoriana, dentro e fora do arquipélago, nas inúmeras visitas que fiz e
continuo fazendo sempre que estou em Ponta Delgada, a Livraria Sol Mar
dos amigos Helena e José Carlos Frias.
Uma voz criativa a falar da freguesia da Maia com sensibilidade, de
histórias passadas com as gentes, com as coisas, com a vida. Apresenta
a historicidade de um povo repartido por países, culturas e vozes
diferentes. Açorianos da diáspora ou açorianos das Ilhas, os que
ficaram. Diferentes e iguais – sempre açorianos. Acrescenta
significado, mexe com quimeras, e brinca com a ficção num humor
delicioso e irônico. Daniel é mestre na novela, na crônica, no romance,
no ensaio, no conto. Prolífico em sua arte faz da pena o cinzel a
esculpir uma esmerada produção literária regionalista que tem na ficção
de narrativa a maior expressão.
A descoberta do escritor Daniel de Sá levou-me a um breve périplo por
sua obra e despertou um desejo imenso de conhecer a Maia, essa
freguesia situada a 33 quilômetros de Ponta Delgada, pertencente ao
Concelho da Ribeira Grande, cenário aberto para a sua ficção.
Um dia embestei de ir ao "encontro do Daniel" e fui. O próprio Daniel
recebeu-me à porta de sua casa, na rua dos Foros, bem junto à Igreja
Matriz que tem por orago o Espírito Santo. De imediato, um clima de
camaradagem se estabeleceu e já no instante seguinte conversávamos como
velhos amigos. E o "bate-papo" nunca mais teve fim…
Conhecer Daniel de Sá e o conjunto de obras que compreendem sua vasta
bibliografia é viajar no tempo, penetrar no imaginário, é entender o
processo cultural desenvolvido nos Açores e nas comunidades açorianas
da diáspora. Não só. Pois Daniel é um escritor sem limites, nem
fronteiras, nem amarras. Escreve da freguesia da Maia, mas engana-se
quem pensar que esteja isolado, longe do mundo culto, num aquário,
hermeticamente fechado. Não está. Seu espaço é imenso. É o oceano que o
rodeia na Maia e de lá se faz ouvir. E muito bem!
Lélia Pereira da Silva Nunes