Angra do Heroísmo, cidade Patrimônio da Humanidade, localizada na Ilha Terceira, de onde há 260 anos partiram os povoadores açorianos para a Santa Catarina e especialmente para Ilha de Santa Catarina, recebeu investigadores, acadêmicos de diferentes áreas científicas, gestores políticos, dirigentes de ONGS, gente oriunda dos mais diferentes lugares, culturas e, principalmente, vindo de Ilhas para a Conferência Internacional: “Aproximando Mundos: Emigração,Imigração e Desenvolvimento em Espaços Insulares”, organizada pela Fundação Luso-Americana(FLAD), Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, Direção Regional das Comunidades(Açores) e o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. Por dois dias (29 e 30 de maio) um debate aberto e plural aconteceu em torno de questões relacionadas com as migrações internacionais e o desenvolvimento de espaços insulares. A troca de experiências de diferentes ilhas e arquipélagos e as conseqüências do processo migratório, tanto nos locais de origem e de destino dos migrantes, como no relacionamento entre ambos foi o enfoque norteador da conferência. O binômio migrações internacionais-espaços insulares provocou calorosas discussões trazendo à tona realidades, dificuldades, preocupações, anseios semelhantes para espaços-Ilhas situadas nas periferias ou ultra-periferias geográficas dos principais eixos de poder político e econômico. Foi mais além e debateu o custo da “perificidade”, a mobilidade contemporânea num contexto transnacional, a questão da Identidade Insular e as estratégias de investigação e de intervenção social e política. Histórica e geograficamente sabe-se que as Ilhas são pontos de encontro, de convergência, de transição. Pontos de entrelaçamento de rotas de comércio e de pessoas. Ilhas circunscritas a mundivivência insular, a uma intensa interação social e de relacionamento social fechado. No entanto, os espaços insulares, no mundo globalizado, desenvolveram um quadro de abertura, de oxigenação de idéias, de um inevitável processo de interação com o exterior, expandindo-se em convivências sociais globais. Um “recentramento” visível de algumas ilhas de sucessos econômicos como a Irlanda, Açores, Madeira. Regiões que vivem hoje a transição das emigrações para a imigração como o exemplo das Canárias, Açores ou Chipre. A Conferência queria respostas para perguntas que afligem o mundo-insular, como: “Quais os contornos da relação entre emigração e imigração nos espaços insulares?” “Qual é o papel dos emigrantes e descendentes no processo de desenvolvimento?” “Há uma especificidade nas políticas migratórias que envolvem os espaços insulares?” Enfim, era o momento de pensar as ILHAS. As vozes não se fizeram esperar e ecoaram fortemente no anfiteatro do Centro Cultural de Angra em defesa dos espaços insulares. Assim, do Reino Unido, Russell King (University of Sussex) analisou a evolução das Ilhas na era da Mobilidade Global; do Cabo Verde, Arnaldo Ramos (embaixador de Cabo Verde em Lisboa) fala sobre as Migrações, Desenvolvimento e Identidade Cabo-Verdiana; dos Açores, Gilberta Rocha (Universidade dos Açores) examina a dinâmica demográfica do arquipélago a partir do fenômeno das Migrações; da Nova Zelândia, Richard Bedford (Waikato Universty) apresenta o tema Migrações Internacionais num Mar de Ilhas, apontando as diferenças, os desafios e as oportunidades de desenvolvimento para as ilhas do Pacífico e de Malta, Godfrey Baldacchino (University of Price Edward Island, Canadá) discute a aparente abertura das sociedades insulares frente à determinadas imigrações que causam impacto cultural e social na vida das ilhas, no processo de interação entre os recém-chegados e os locais, com o tema “Imigrantes, Turistas e outros de Fora: Venha Visitar,mas não Permaneça.” Também vinda do Canadá (Univesidade Brock) Irene Maria F. Blayer fala sobre “A diáspora açoriana no Canadá: testemunhos de comunidades periféricas”.
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Cada um dando a sua resposta, a sua contribuição valiosa para um tema que era preocupação de todos que ali se uniam no desejo de discutir o que significa de fato – “Viver numa Ilha”. Naquele momento, em que a comunicação fluía intensa, que na arquitetura de projetos reais esboçavam-se sonhos possíveis para o futuro das Ilhas, pedi a palavra e falei de uma outra Ilha – um pedacinho de terra perdido no mar – a minha terra de pertença, o território dos meus afetos – a Ilha de Santa Catarina e refleti sobre os temas abordados que traziam em seu bojo preocupações que eram também as nossas desde a mobilidade espacial, a ocupação e o uso do solo, as questões ambientais, o espaço urbano, o impacto cultural e social na vida da Ilha e o futuro da nossa gente. Por momentos , na outra margem do Atlântico, me surpreendi pensando no meu compromisso pessoal: sempre é hora de Pensar a Ilha.