ARQUIPÉLAGO
CABRAL, Viagem marítima no grupo central, Sexta-feira, 30 de Julho AD 2004
Este poema pertence ao meu amigo Aurélio
que é dono do original, feito quadro
todos os direitos lhe são reservados
A minha ilha não tem fim não tem fronteira
Assim o quis o grande mar
Assim o quis o grande mar.
Na minha ilha não há escorpiões nem a serpente do mal
Assim o quis quem manda aqui
Assim o quis quem manda ali
Assim o quis quem manda acolá.
A minha ilha é uma estrela-do-mar
A minha ilha é uma estrela no mar.
À noite abro a janela às cagarras
Chamam por mim eu as baptizei
Eu as baptizei e elas chamam por mim.
Os garajaus amam a minha ilha
Amam-na a cantar
Assim o quis o grande mar
Assim o quis o grande mar
Que a poupou de afundar
Que a poupa vou à popa
Aprendi a cantar
Este Verão imortal.
O sangue do mar é branco
Branco puro e vaporoso
Só quem diz que o mar é água
É quem não sabe amar
Para mim este mar é tinta de escrever
Na minha caneta Parker
Por mais que viva não esgotará
Só quem diz que o mar é água
É quem não sabe amar
Mar é mundo, mar é fundo
Este mar se fez lagoa
Vai à proa, marinheiro
Este mar gosta de ti
Grita alto e bem alto
O coração é azuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuulllll!
Uma ilha à esquerda
Outra ilha à direita
A da frente tem outra atrás
Sei que vem outra a seguir
Estou no meio das três
Estou no meio das cinco
As ilhas correm cortinas azuis no distanciamento
Mas logo outras abrem as janelas para o abraço azul
Esta ilha sabe a pão
Esta ilha cheira mesmo a mar
De repente o mundo cabe todo nela
O mar abre uma toalha de renda de tramóia
Para o paquete dos pãesilhas.
Marinheiro do mar alto
Busca golfinhos para olhar
Marinheiro do mar alto
Para olhar mas não pensar
Se olhares bem olhado
Terás todo o teu passado
Marinheiro entenderás
Que este mar é o mesmo mar
Que este olhar é o mesmo olhar
E cá fora és imortal
Marinheiro do mar alto
Vai à proa e grita azul
Azuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuulllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
Azuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuulllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
Azuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuulllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
Mário Cabral Natural da Terceira, Açores, é Doutor em Filosofia Portuguesa Contemporânea, pela Universidade de Lisboa, com Via Sapientiae – Da Filosofia à Santidade, ensaio publicado pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (2008). Para além do ensaio, publica poesia e romance. O seu último livro de ficção (O Acidente, Porto: Campo das Letras) ganhou o prémio John dos Passos para o melhor romance publicado em Portugal em 2007. Está traduzido em inglês, castelhano e letão. Também é pintor.