As Rosas de Granada
Nunca um livro foi tão pequeno para tão grande memória. Nunca um espaço foi tão adequado para tão nobre evocação. As Rosas de Granada. Daniel de Sá. Ou Ahmed Ben Kassin. Um poeta que foi e sempre disse que não o era. Uma amada que foi e que diz hoje que sempre o será. São quarenta páginas. Intimistas. Solenes, nobres e únicas. O suficiente para a mais pura evocação que se pode fazer de um ser humano: Amou!
Maria Alice (com seus filhos e netos ao redor) é a grande destinatária dessas Rosas de Granada. Foi-o na edição original, privada e exclusiva, que conseguiu que o conjunto de poemas de Daniel de Sá permanecesse em verdadeiro inédito até à passada Quinta-feira.
Não foi em vão que a Maria Alice, a Ver Açor Editores, para quem Daniel de Sá é desde sempre o ícone que preside a ideal da divulgação literária açoriana, e a Câmara da Ribeira Grande escolheram o espaço místico e mítico do Museu do Franciscanismo para apresentação deste livro. As muitas dezenas de pessoas que ali acorreram, um pouco de toda a ilha, o ambiente emotivo que ali se criou, sem fantasias nem protocolos, e o derramar de testemunhos numa torrente de devoção e evocação, fazem daquela noite de último dia de Outubro, uma inesquecível jornada de homenagem a Daniel de Sá e àquela a quem ele amou no mais sublime gesto que se pode ter que é de viver ao lado e dentro, como quando eu era cativo só o meu corpo estava prisioneiro. O meu coração não tinha morada certa e o meu espírito andava livre…. Agora, estou preso sempre no coração da minha amada.
Ter o pequenino livro na mão é como que olhar para os velhos livros de “deve e haver” das nossas antigas contabilidades. Feliz a hora em que Fernando Ranha e a sua equipa deram tal concepção a estas Rosas de Granada.
Nestas Leituras do Atlântico há que registar que este foi um momento único a que me foi dada a alegria de participar, pela amizade do responsável máximo da Ver Açor Editores.
Único, porque Fernando Ranha disse que iria continuar na senda de levar o nome de Daniel de Sá a todas as pessoas e lugares, como merece um escritor das Ilhas que universalizou a dimensão insular e arquipelágica; único na memorável lição que ali foi deixada por Madalena San-Bento, sobre o livro e Daniel de Sá; única no comovente testemunho de Sidónio Bettencourt, maré cheia de prosa e poema, vida vivida e abraço eterno com o poeta da Maia que também foi escritor; única na beleza, singeleza e nobreza da apresentação de Margarida Pereira, uma das nossas mais belas vozes da rádio e da nossa cultura: e única, finalmente, nas palavras do anfitrião da festa, o presidente da Câmara da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio que ali firmou o compromisso de eternizar em nome de biblioteca, nova em folha, para velhos tesouros escritos, o nome de Daniel de Sá.
Naturalmente que este não é um apontamento de reportagem. Esta compete aos jornalistas que estavam (ou deveriam) estar presentes. Este é o sentimento de quem, já tendo lido as Rosas de Granada, viu que há memórias que não precisam de palavras, mesmo que elas ali estivessem, vindas e escritas por Manuel Alegre, ou por Cota Fagundes, com cheiro a terras do Novo Mundo onde chega e por onde passa o desejo de conhecer a grande obra de Daniel de Sá. A presença institucional de um Secretário Regional, neste caso Vitor Fraga, do Turismo, e o abraço amigo do antigo presidente do Governo, Carlos César, e de tantos com quem Daniel de Sá privou ou acompanhou, com os seus conselhos oportunos, as suas críticas desinteressadas e sempre equilibradas, tudo isto fez com que esta iniciativa honrasse a pluralidade da cidadania que é essencial ao vértice a que nos conduz a verdadeira cultura: o respeito pelo que nos une e que atenua o que nos separa.
As Rosas de Granada marcam a literatura açoriana; são quase como que “o Cântico dos Cânticos” da Bíblia, adaptados ao coração do Daniel de Sá, em cuja pena cabiam os nossos corações todos, no sentir e no amar.
Daniel de Sá estará feliz, ao sentir a emoção da sua amada, a Maria Alice e também a oportunidade única e irrepetível desta iniciativa de Fernando Ranha e da Ver Açor Editores que importa realçar.
Santos Narciso
Nota: Açoriano de São Miuel, Santos Narciso, com grande sensibilidade e talento, brinda-nos com prosas lavadas de beleza. Aqui está mais um artigo,publicado na edição 85677 do jornal Atlântico Expresso de 4/11/2013 que aqui reproduzimos com sua autorização.
Além de assinar matérias de grande relevo na imprensa local é, também,Diretor Adjunto do referido semanário e do Correio dos Açores.