Numa banca da cosmopolita Via Condotti, na frenética Estação Termini, na sempre florida Escadaria de Espanha, na bela e também brasileira Piazza Navona, desfraldado como um pavilhão, tremula um produto de Siderópolis. Ao lado da manchete do La Repubblica, do La Stampa ou do Corriere della Sera, apalpado como o caderno de esportes que mostra o gol do Imperatore Adriano, ou alguma obra prima do Rei Kaká, brasiliano mais popular da Itália o livro é um estandarte catarina em Roma… Que tropical produto será este, sem ser o habitual guaraná do Amazonas ou as castanhas de caju do Pará? Já se disse que é do sul, do Sul de Santa Catarina. E mais: leva o rosto de um escritor premiado. Ajudando a criar um saldo na penosa balança comercial Brasil-Itália, hoje sofrendo com a crise, o livro Avanti Soldati, Dietro-Front La Vita e gli Amori al Tempo della Guerra disputa espaço entre os ásperos assuntos do novo front a extradição ainda não concedida e o refúgio assinado pelo italiano Tarso Genro em favor de Cesare Battisti.
Ao brasileiro acostumado a colher bizarrias nas manchetes sobre "il Brasile", o livrinho exibe o genuíno orgulho de um selo de qualidade assinado por ninguém menos que o Nobel de Literatura, José Saramago:
– Il romanzo riesce a raccontare i piccolo grandi drammi del vivere quotidiano, creando personaggi complexi e contraddittori, attraverso i quali riesce a sottolineare l’assurdo de questa e di tutte le guerre.
O produto de Deonísio é bem nascido. Reunindo fatos e ficção, numa versão paisana e picaresca da "Retirada da Laguna", episódio da guerra do Paraguai, o livro – com seu título anti-lógico "Avante Soldados, Para trás!" – venceu o prêmio Casa de las Americas de 1992.
Hoje é um clássico da rica literatura latino-americana. Reconstitui a guerra sob a lente de uma onírica versão da "Retirada", revelando uma história de amor triangular. Entre um soldado, a paraguaia Mercedes e o "legendário" coronel Camisão. Aos personagens reais, como o Duque de Caxias, o Visconde de Taunay e o comandante Carlos de Moraes Camisão, Deonísio junta heróis imaginários, como a puro-sangue paraguaia Mercedes, que participava de um fictício batalhão feminino.
– Minha história não é romântica – diz o autor de grandes sucessos, como Tereza e A Mesa dos Inocentes. Mas trata do amor entre dois inimigos.
É assim que Siderópolis vai vencendo a nova guerra entre Brasil e Itália.
Fonte:Blog do Sergio da Costa Ramos
Postado por Sérgio da Costa Ramos às 12h24
11 de fevereiro de 2009-02-15