BREVE CANTO
A memória engole a nova terra
nas águas do reino! e do ilhéu,
marco da conquista que precede
o navegante alado-sentinela
ah! marinheiro, o canto dos açores
vai surgindo no espaço
e o cansaço tateia a mesma Ilha
II
navego o peixe – fantasma
do Ribeirão o feitiço
a bruxa que come infante
aguarda na flor o mergulho
III
solto asas arrastando
o demónio invejoso,
e te mando um Pão-por-Deus
algas e peixe fresco,
IV
barco repousa ao vento
vencido mar de adeuses
consolo azul se afasta
nau a prumo vai partir
V
no tatalar da estrela
(puro vinho musical)
encontro a carta celeste
como a volúpia e o aço
e o canto bruxo do anjo
VI
sonha a menina noturna
a bruxa e o capitão
olhe a Nau Catarineta
passa amor sem direção
VII
e os homens azuis vieram de longe
trazendo nos ombros aurora e possessão
o chão concreto dia-a-dia ergueu-se
a sombra enrugou os muros
do alto franziu as ruas
a Ilha entrou no mar
VIII
Ilha verde branco o corpo
vento sul a face açoriana
Jurerê-mirim – Desterro
a Praça 15 serena.
In: As Raízes do Vento,
Caminhos do Mar, Nova Letra, Florianópolis, 2005
Osmar Pisani (1936- 2007)
Natural de Gaspar, interior de Santa Catarina, Osmar era uma apaixonado pela Ilha de Santa Catarina e por Florianópolis onde viveu como professor da UDESC, crítico artístico (ABCA)e como poeta que cantou a Ilha e seu rico imaginário.