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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Caminhos do Divino, um livro excepcional
Eduardo Mayone Dias (1/2)
Comunidades 30 jun, 2010, 06:14

Caminhos do Divino, um livro excepcional Eduardo Mayone Dias (1/2)

foto: Foliões do Divino,artista plástico catarinense Willy Zumblick

Caminhos do Divino, um livro excepcional
Eduardo Mayone Dias
       
        Caminhos do Divino, um livro excepcional
Eduardo Mayone Dias (1/2)

1. Lélia, uma catarinense ainda açoriana
Lélia Pereira da Silva Nunes nasceu na cidade de Tubarão, Estado de Santa Catarina, parte da 8ª geração de imigrantes açorianos chegados a essa região desde os meados do século XVIII. Vive actualmente em Florianópolis.
Licenciada em Ciências Sociais e Mestra em Administração Pública, foi professora adjunta de Sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Desempenhou prestigiosos cargos administrativos em diversas organizações culturais e está ligada ao Instituto Açoriano de Cultura e ao Instituto Cultural de Ponta Delgada.
Colabora regularmente no Jornal de Letras do Brasil, no Correio dos Açores e, como os leitores deste jornal bem recordarão, no Portuguese Times. (Em nota curiosa assinalemos que a sua produção literária teve início em 1957, numa crónica do Aurora, jornal do Colégio São José do Tubarão.)Tem mantido um activo contacto com os Açores, participando em numerosos eventos culturais do arquipélago.
2. Os antepassados
Lélia tem atrás de si uma fascinante história, que remonta ao século XVIII. Foi de facto a 31 de Agosto de 1746 que o Rei de Portugal Dom João V divulgou pelas ilhas açorianas um edital contendo a prometedora oferta a casais ilhéus de transporte gratuito até ao sul do Brasil e generosas vantagens para a sua fixação em zonas rurais.
Assim, a cada casal seriam oferecidos um quarto de légua quadrada de terra cultivável, uma espingarda, duas enxadas, um machado, um facão, várias ferramentas, dois alqueires de sementes, duas vacas e uma égua. Também durante o primeiro ano se lhes forneceria a farinha necessária para a sua alimentação.
A 21 de Outubro de 1747 embarca no porto de Angra, na Ilha Terceira, o primeiro contingente de casais açorianos com destino a Santa Catarina. Outras levas foram chegando: 4 612 ilhéus em 1748, 1 666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753. Nesse período de cinco anos, os casais açorianos duplicaram a população da ao tempo denominada capitania de Santa Catarina.
As promessas reais nem sempre se cumpriram mas, com o seu tradicional afinco, os recém-chegados foram sobrevivendo e mesmo prosperando, ao ponto de haverem criado uma dinâmica comunidade nesse território.
Os imigrantes trouxeram naturalmente consigo tradições que ainda hoje perduram. Uma das mais pujantes foi o culto do Divino Espírito Santo, largamente praticado nos Açores.
3. A dedicação de Lélia ao estudo da celebração da festa do Espírito Santo
Lélia interessou-se em particular por este evento. Impressionou-a decerto o facto de ser celebrado com o patrocínio da Igreja mas organizado independentemente entre a população local, pela ausência do cunho antropomorfista que marca a grande maioria dos rituais do catolicismo, pela mistura de reverência e temor que inspira ou por tantos outros significativos factores.
Foi pois a esta celebração que a catarinense que não esqueceu a sua ancestralidade açoriana tem devotado largos anos de pesquisa e publicação, numa extraordinária prova de apego às suas distantes raízes.
4. Caminhos do Divino, um livro excepcional
O processo culminou com a publicação do magnificamente apresentado volume Caminhos do Divino – Um olhar sobre a festa do Espírito Santo em Santa Catarina, que viu a luz em 2007.
A pluralidade implícita no título reflecte-se numa vasta abordagem às diferentes manifestações do culto do Divino, oscilando entre o trazido de além mar e variantes desenvolvidas no referido Estado.
O primeiro capítulo da obra marca assim o passo para o posterior andamento estrutural, empenhando-se numa erudita e circunstanciada descrição do ritual que caracteriza as festividades levadas a efeito na catarinense freguesia da Penha desde 18 de Maio de 1836.
Houvera todavia antecedentes. Segundo a tradição, o açoriano José Honorato Coelho Rocha trouxera para a localidade, em 1818, uma coroa do Espírito Santo que foi guardada na igreja de São João Baptista e depois levada para a capela de Nossa Senhora da Penha, onde por anos se conservou.
Mais tarde decidiu-se reviver a tradição e foi escolhido um imperador que convidou três moradores da freguesia para o auxiliarem nos cargos de “empregado de festa”, “empregado de vela” e “alferes de bandeira”. Hoje em dia a comunidade conta já com cerca de 1 200 “empregados”.
5. O “correr da bandeira”
Como Lélia narra neste volume, os preparativos iniciam-se no primeiro sábado após o Carnaval. É então que um grupo encabeçado pelo mestre-folião, tocador de viola de dez cordas, pelo contramestre de tambor e pelo contramestre de rebeca percorre as casas numa colecta de donativos, na forma de prendas ou dinheiro.
Conhecido como “correr da Bandeira” este procedimento consiste em visitar 15 a 20 casas por dia, num total de cerca de 500. A cada família se apresenta a bandeira do Divino, de damasco vermelho, ao centro com uma pomba bordada. A bandeira vai presa a um mastro também vermelho, encimado pela figura de uma pomba, uma grinalda de flores e fitas, estas produto de promessas de devotos.
O grupo itinerante é composto pela família do imperador e pelos foliões do Divino, que entoam uma cantoria improvisada. Os donos da casa, avisados com antecipação, conduzem os visitantes a uma mesa repleta de bebidas e iguarias. É também a ocasião de oferecer o donativo, que os foliões agradecem com outra cantoria. A tradição exige que seja a anfitriã quem leve a Bandeira até à casa seguinte.Na última visita tem lugar a chamada dança de São Gonçalo, onde ritmos portugueses alternam com africanos e indígenas. Vem depois a cantoria final de agradecimento, sempre improvisada. Uma destas, recentemente registada, terminava assim:
O nosso muito obrigado,
Também em nome do Imperador,
Deixando para vocês
Muita saúde, paz e amor.

6. O ritual da festa da PenhaAinda neste primeiro e paradigmático capítulo Lélia dá-nos um circunstanciado relato do programa festivo na freguesia da Penha. Assim, ao aproximar-se a data da festa do Divino, de sábado a segunda-feira, nesse primeiro dia encerra-se o ciclo de novenas rezadas em noites consecutivas na Igreja Matriz.
É também então que
A alvorada do Domingo de Pentecostes é marcada pelo estralejar de uma girândola de foguetes. Tem depois lugar um cortejo que se dirige à Igreja Matriz desde a residência do imperador. Abrem este cortejo jovens vestidas de branco e vermelho, empunhando bandeiras de inspiração religiosa. Seguem-se-lhe as “meninas dos sete dons”, com sete ou oito anos de idade, cada uma representando um dos sete divinos dons do Espírito Santo.
Desfilam em seguida autoridades civis e militares e os portadores da bandeira nacional, da estadual e as de vários municípios. Após estas marcham os “empregados de vela”, homens e mulheres transportando velas vermelhas acesas, como símbolo da chama divina do Espírito Santo.
No cortejo figura também o “espadim”, um menino-imperador com o seu traje medieval, representando o filho da Rainha Santa Isabel e de Dom Dinis, presumivelmente o futuro Dom Afonso IV de Portugal, e dois “trinchantes” a quem compete levar a coroa e o ceptro até à igreja. Para encerrar o cortejo os foliões cantam de improviso e tocam os seus instrumentos.
Os foliões participam igualmente na missa em que o imperador é coroado pelo celebrante. São eles que sinalizam o prosseguimento da cerimónia, com quadras como esta:
O imperador coroado,
As velas podem apagar.
Reverendo Padre João,
A missa pode começar.
Terminada a cerimónia, distribuem-se “pãezinhos bentos” e a comitiva segue para o salão imperial, onde o imperador oferece um
banquete aos “empregados” e a outros convivas.
Mais tarde o imperador, acompanhado do seu séquito, dirige-se à Prefeitura, em frente da qual a sua família o espera. O imperador coroa então a sua esposa e filhos e vários parentes e amigos, assim como fiéis que cumpriam promessas.
Os festeiros regressam então à Igreja Matriz para nova missa e eleição do seguinte imperador, realizando-se esta por um sorteio conduzido pelo pároco à base de uma lista de doze candidatos.
Na segunda-feira, feriado municipal, entrega-se carne, pão, massa sovada, arroz doce e vinho a famílias mais carentes. Tem também lugar nova missa e a entrega da coroa e do ceptro. Seguem-se
um almoço, folguedos populares e à noite um baile no salão paroquial.
7. A festa em outras localidades
Caminhos do Divino passa então a descrever, através dos restantes capítulos, como o ritual se manifesta, de diferentes formas, ao largo de todo o Estado de Santa Catarina.
Outra surpreendente anomalia, esta cronológica, registou-se na municipalidade de Cachoeira do Rio Tavares, onde a festa do Divino se iniciou na tardia data de 1995 por iniciativa do pároco, Pe. Dr. Vilmar Adelino Vicente. Para incrementar o brilho do evento este sacerdote recebeu a doação de um conjunto de trajes imperiais. Foi ele de igual modo quem motivou a Irmandade do Senhor Bom Jesus a prosseguir a festividade em anos seguintes. o imperador vai buscar à igreja a coroa, assente sobre uma bandeja de prata de pé alto, e o ceptro, este com uma pomba de asas abertas. Trata-se de limpar as alfaias e tê-las prontas para a coroação no dia seguinte. À noite a coroa é levada processionalmente para casa do imperador e as alfaias dispostas num altar, seguindo-se uma noite de vigília.Lélia destaca, por exemplo, um intrigante caso de sobreposição cultural, o da cidade de Blumenau, de forte implantação germânica. Aí coincidem a celebração da
Oktoberfest, festival profano originário da bávara cidade de Munique, com a do Espírito Santo, rebaptizado como “der heilige Geist”. Ainda outra significativa doação, que teve lugar em 1845 na pequena cidade piscatória de Santo António de Lisboa, permitiu a aquisição de uma valiosa coroa de prata lavrada. Desta vez a generosidade veio das mãos do Imperador Dom Pedro II, particularmentedevotado à cultura, que nesse ano visitou o municípi.8. O caminho catarinense face ao insular: as convergências
Antes de chegar a Santa Catarina, o culto do Divino, que Lélia tão magistralmente refere, sofreu, como bem se sabe, duas transplantações, do Portugal Continental às ilhas e das ilhas às Américas. Mantido por séculos no Continente Português, em tempos modernos dele apenas restam residuais vestígios em Penedo, na Serra de Sintra, e em Tomar, durante a Festa dos Tabuleiros. Nos Açores é facto conhecido que denota uma admirável vitalidade.
Este longo percurso trouxe inevitavelmente variantes no ritual. As coincidências entre as práticas açoriana e catarinense mostram-se todavia numerosas, numa vibrante prova de apego à tradição trazida do outro lado do mar.
Assim, no que concerne a semelhanças aponte-se, por exemplo. que o “correr da Bandeira”, embora sem essa designação, tem o seu equivalente nos Açores.
Num relato referente à micaelense Lomba da Maia, menciona-se que semanas antes da festa o mordomo e os seus auxiliares percorriam a freguesia recolhendo donativos, por vezes efectuados a prestações.
Neste cortejo figuravam a bandeira do Espírito Santo e foliões entoando as suas “alvoradas” em louvor do Divino. Os fundos recebidos custeavam as “pensões”, refeições compostas de pão, carne, vinho e massa sovada a serem entregues no sábado de Pentecostes a pessoas necessitadas, enfermas ou em particular distinguidas pelo seu apoio à organização das festividades.
(cont.)

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