As
vírgulas são uma espécie em vias de extinção, mas fundamentais para a
manutenção da ordem
mundial desordenada. Uma vírgula entre dois pontos de
exclamação, irredutíveis, pode evitar uma guerra intestina, coisa de somenos
importância para quem coleciona holotúrias.
Se
minha avó, no meio das suas orações, implora para que a Virgula Maria nos
proteja, meu avô não se cansa de reclamar que o altar delas é sagrado: entre
marido e mulher ninguém meta a sua vírgula.
Pesando
prós e contras, na minha modesta opinião, estrangular a vírgula é uma obrigação
patriótica e de esquerda. Originária de castas enxertadas na tradição fidalga,
transporta para a escrita uma falsa coloração rubi, de aromas maduros, com
traços vegetais disfarçados de progressismo petulante. Os taninos nobres,
introduzidos artificialmente por grandes latifundiários, são o mais puro
condimento para a alienação do proletariado sequioso.
prós e contras, na minha modesta opinião, estrangular a vírgula é uma obrigação
patriótica e de esquerda. Originária de castas enxertadas na tradição fidalga,
transporta para a escrita uma falsa coloração rubi, de aromas maduros, com
traços vegetais disfarçados de progressismo petulante. Os taninos nobres,
introduzidos artificialmente por grandes latifundiários, são o mais puro
condimento para a alienação do proletariado sequioso.
Abaixo a vírgula
traidora, viva o ponto de reclamação!
traidora, viva o ponto de reclamação!
NOTA: Texto inédito de A galope numa noite de Búzios.
Enes, Carlos Manuel Pimentel, professor do ensino secundário e superior, investigador de temas de história açoriana. Natural de Vila Nova, ilha Terceira, Açores.