Digníssimas senhoras, estimados cavalheiros
Na obra do nosso amigo e mestre da pintura, hoje aqui patente, espraia-se o proto-universo enfático, onde cada pincelada é um fluxo interdependente para a perceção da linguagem que o artista timidamente revela. Mas ela está lá num jogo caleidoscópico vertebrado. Basta levantar o véu reticulado para surgirem as texturas que dão corpo, alma, coro e decoro ao manto diáfano que envolve o suposto referente.
Destruturando as suas formas, captando as vibrações e as interjeições das forças magnéticas, o magma escorre pela tela, emprestando-lhe cores que refletem o que está por detrás do firmamento, com a transparência da cristalização que vem das profundezas do mar oceano. Só um artista com a sua craveira consegue retirar do vazio a essência do cosmos, que pode ir da molécula inconsciente ao olho do furacão, do átomo cardíaco ao anel de Júpiter.
A policromia das suas formas plutónicas, e porque não platónicas, são uma partitura musical que aprisiona o tempo e nos transporta para um mundo de silêncio e inquietação.
Bem-haja, meu querido amigo, por se dignar partilhar connosco o seu talento, um talento que vai juntar-se ao caudal daqueles que sabem sobreviver anos-luz à frente das malhas da compreensão. Falo por experiência própria e sei que me acompanha em toda a extensão desta angústia.
Tenho dito.
Enes, Carlos Manuel Pimentel, professor do ensino secundário e superior, investigador de temas de história açoriana. Natural de Vila Nova, ilha Terceira, Açores.