O tempo indizível caiu num saco de escorbuto
as hienas beberam bagaço purificado em alambiques
de prata falsificada
o príncipe cuspiu do alto da tipoia
no carreiro das formigas
a nau encalhou na curva do cabo espichel.
Acabou o gengibre, a canela, a noz-moscada
o ouro, o diamante, a borracha,
o escravo, o cacau, o rubi, a turmalina …
Bebo leite de cabra em jejum
para a limpar o bolor das olheiras
colado à insónia
duma história pátria mal contada.
Já estripei as bactérias na guilhotina
engarrafei as mandíbulas do adamastor
e no crematório espalmei o nevoeiro sebastiânico.
Massajo matinalmente os neurónios
com banha de peixe-sapo
para me livrar do colesterol irrevogável.
Icei o punho na manga do fato-macaco
– é na rua que o povo espirra, sangra e urina.
Carlos Enes, Inédito