Com a boca cheia de riso (7). “E LA NAVE VA…”
É um navio chinês carregado de mercadoria.
Mas chineses há muitos, como diria o outro. Fui então ver se sabia mais pela internet – e sim, o navio é chinês, a companhia é de Taiwan, e eu estou na Ilha Terceira aonde ele de certeza que vem descarregar. Há já uns meses, o Presidente da República Popular da China veio passar um dia aqui na ilha, nas asas do seu enorme avião presidencial – que teria todas as razões do mundo para aqui aportar menos aquela que foi então anunciada: escala técnica. Agora, visto por estes meus olhos que as chamas hão-de cremar, é enorme o navio de Taiwan que neste momento já estará a amarrar no porto oceânico da cidade de Nemésio – trazendo em seu bojo sabe-se lá quantos presidentes.
Mas se chineses há muitos, também há várias chinas. E verdade seja dita que quando vou a um restaurante chinês, a uma loja de chineses, à megaloja chinesa que vai dominando o pequeno comércio da cidade de Angra do Heroísmo – o que menos me preocupa é saber se se trata de chineses continentais ou insulares, porque para mim são todos descendentes de Confúcio e primos entre si, uns pela banda de Mao Tsé-tung, outros pela de Chiang Kai-shek.
Enquanto o incrível ministro português dos Negócios Estrangeiros anda para aí sem saber o que dizer (já que de fazer muito menos) acerca do pré-encerramento da presença americana na Base das Lajes (que fica a pouco mais de três quilómetros do porto onde neste momento atraca o navio da Yang Ming), a guarda-avançada do Império do Meio dá mostras de perceber aquilo que os americanos desprezam e os portugueses teimam em ignorar: que se a Ilha Terceira foi uma imprescindível plataforma de apoio na era das grandes viagens marítimas e durante a Guerra Fria, poderá vir a ser uma utilíssima plataforma de distribuição de mercadorias para todo o Hemisfério Norte, a meio caminho entre os portos americanos e o Canal do Panamá, por um lado, e os grandes portos europeus e mediterrânicos, por outro.
Perante a enorme estupidez portuguesa que ainda não percebeu que são os Açores com o seu milhão de quilómetros quadrados de mar, e não Lisboa, que dão projecção internacional a Portugal, apetece dizer, como Fellini: “E la nave va…”.
Chinesa, é claro.