Como seria em 1012?
Sergio da Costa Ramos
Antes de sair de casa e conferir lá fora como é a cara desse 2012 que está chegando, fiquei pensando como teria reagido à virada do seu milênio o nosso “colega” do ano medieval de 1012.
Sua cara teria sido de susto. O número 1000, aplicado ao tempo, estava associado ao “fim das espécies” e ao retorno de Cristo à Terra para a ressurreição dos justos.
O cidadão de 1012 não tinha celular, nem Internet, mas pelo menos não quebrava a cabeça para estacionar o seu cavalo.
No réveillon do século X ninguém imaginaria que o homem fosse viver outros mil anos, antes do Juízo Final. E essa “testemunha” memorial diria que logo no seu primeiro século aquele Milênio começou a mudar o mundo: William, o Conquistador, tomou a Inglaterra dos Vikings. O Papa Urbano II deflagrou as Cruzadas e os seus exércitos conquistaram Jerusalém e Constantinopla. Frederico I, o Barba-Roxa, primeiro “Hitler” alemão, conquistou Roma no século seguinte. Papas reformistas fizeram história: Leão IX, os Gregórios, VI e VII, e um certo Nicolau II – nada a ver com o nosso juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau do TRT.
– E como eram os fogos daqueles tempos? – perguntariam ao homem medieval os fanáticos por comparações.
– Bem, os chineses não iam deixar para inventar os fogos de artifício no século XXI, quando tudo já é “Made in China”. Essa pirotecnia é um artesanato multimilenar, nada parecido com o que veremos aqui na “virada” da Beira-Mar.
Em 1012 o pessoal só olhava pro Céu com medo do cometa do fim do mundo. A vida era muito mais tranqüila, apesar de não haver supermercado. Quem quisesse comer, tinha que sair à caça. E dar um terço do seu boi ou carneiro para o Rei – que os mandatários daquele tempo já tinham o mau hábito de extorquir os seus cidadãos.
Estando em Portugal, por essa época, poderíamos morrer na Batalha de Aljubarrota, o que não seria pior do que morrermos, mil anos depois, numa Batalha do Trânsito, ali em Massiambu Pequeno ou Paulo Lopes, em plena BR-101/Sul…
Nosso viajante do tempo gostaria de saber mais, matar todas as suas curiosidades:
– E quais foram os grandes acontecimentos do final do século XX e início do século XXI?
Azar do nosso “Temponauta” que ele tivesse reencarnado logo aqui no Brasil, terra de acontecimentos bizarros. Pensando bem, foram de baixíssimo calibre os últimos eventos do século passado e os primeiros desta década do Terceiro Milênio. Dizer o quê?
– Que a classe política continua sem classe?
– Que a cleptomania é a principal epidemia em Brasília?
– Que o final do século XX assistiu ao fim da inflação e que o novo século assiste ao seu renascimento?
O que dizer da primeira notícia que nascerá junto com 2012? Que o governo se atreveu a inaugurar o ano aumentando os impostos?
Entramos em novo ciclo de eleições, as municipais. Depois, virão as gerais. E as autoridades ainda não chegaram a um acordo quanto à mudança do dia 1. de janeiro como data da posse de presidentes e governadores. Uma confusa e embriagada impropriedade. Gregório XIII reformou o calendário e antecipou o antigo abril para janeiro. Aí, começou a confusão… Mas terá sido Ulysses Guimarães I, aquele “Papa” brasileiro, o responsável por esse calendário maluco, que marca a posse de dignitários num dia de sono, mau hálito, remela, flatos e perdigotos.
Felizmente nossos eleitos de 2012 só serão “empossados” em 2013. Mas o “soluço” e o “Engov” serão os mesmos.
Quando este janeiro passar e o Brasil já estiver melhor acordado, recomendaremos ao nosso amigo medieval:
– Volte rápido para 1012…
Uma coisa é certa: lá “atrás” o ar é muito mais respirável. Com a vantagem de que o Brasil ainda não nasceu e os “fichas sujas” ainda não existem.
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Nota: Sergio da Costa Ramos,ilhéu,nascido na Ilha de Santa Catarina.
Escritor. Cronista do Diário Catarinense,onde mantém uma coluna diária. Considerado um dos mais importantes nomes da literatura catarinense contemporânea.