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Imagem de Crônica: Um Stradivarius no Pico da Vara de
DANIEL DE SÁ
Comunidades 28 mai, 2017, 02:09

Crônica: Um Stradivarius no Pico da Vara de DANIEL DE SÁ

Há quatro anos,27 de maio, o escritor açoriano Daniel de Sá deixou-nos. Quero lembrar, hoje, Daniel de Sá, mil vezes, com a alegria de ter partilhado de sua amizade e bebido na fonte cristalina da sua sabedoria. Em sua homenagem, aqui está uma de suas crônicas, com admiração sempre.

Um Stradivarius no Pico da Vara

Paris, aeroporto de Orly, 27 de Outubro de 1949. Completa a lotação do voo da Air France com destino a Nova York. Na grande cidade americana, a solidão de Edith Piaf, que sofre uma das suas depressões tão frequentes. E espera que, na manhã seguinte, Marcel Cerdan se vá juntar-lhe. Mas não há lugar no Lockheed Constellation para o amante, fisicamente o seu oposto, que perdera em Junho o título de campeão do Mundo de pesos médios para Jake La Motta. A sorte, porém, parece estar do lado de Marcel e de Edith. Um casal em lua-de-mel desiste da viagem em favor do grande ídolo francês nascido na Argélia. O avião levanta voo às 20h 05m.
Esta parte da história contém talvez uma lenda romântica, pois só embarcaram trinta e sete passageiros, e o Constellation tinha capacidade para mais de sessenta.
Provavelmente Ginette e Marcel nunca se terão encontrado. Ela não frequenta ringues de boxe nem ele assiste a espectáculos musicais em que Edith Piaf não cante. Mas certamente que não passa despercebida a Cerdan aquela jovem de uma beleza serena, esguia e segura como uma deusa grega. Nem talvez o violino, um Stradivarius, que leva consigo. Viaja com ela um homem também muito novo, que vagamente se lhe assemelha. É seu irmão, Jean-Paul, que costuma acompanhá-la quando as obras a interpretar exigem piano.
Ginette tem apenas trinta anos, mas já aos dezoito triunfara em Nova York, que passou a venerá-la. Quatro anos antes, mal terminada a guerra, fizera a sua primeira gravação, em Londres, para a EMI. Num dia que deveria ser de descanso entre outros de uma extenuante digressão, passou muitas horas a gravar com a Philarmonia Orchestra, que também se estreava em registos discográficos com aquela dimensão. O Concerto para Violino, de Sibelius, justamente aquele que estou a ouvir enquanto vou escrevendo. Uma das obras que mais desafiam qualquer violinista. Mas Ginette não desiste nunca. No intervalo concedido a todos os executantes, enquanto os outros músicos descansam ela teima em exercitar os trechos que ainda faltam. Pelas oito horas da noite, o pescoço já parece uma chaga viva. Ginette não se importa. Não só levará a gravação até ao fim, como convencerá a orquestra a meia hora de trabalho extra, para que seja possível concluí-la nesse dia. E, já depois das dez, ainda fará o ensaio completo do Concerto de Walton, a estrear dentro de pouco tempo.
À 1h 04m, hora de Paris, o Constellation entra em contacto com a torre de controlo do aeroporto de Santa Maria, onde deverá fazer escala para reabastecimento. Encontra-se a 150 milhas náuticas desse destino intermédio. A aterragem está prevista para as 2h 45m, informação depois rectificada para 2h 55m.
São 2h 51m quando o comandante, estranhamente, informa a torre de que tem o aeroporto à vista. O voo processa-se a três mil pés de altitude, cerca de novecentos metros. Recebe as instruções de aterragem. Depois, faz-se silêncio. No mesmo instante, um ruído aterrador desperta a maior parte das aldeias do Nordeste, em S. Miguel. Ginette Neveu acabara de morrer numa encosta do maciço do Pico da Vara. E com ela o irmão, Marcel Cerdan e mais os outros trinta e quatro passageiros e os onze tripulantes.
O corpo de Marcel Cerdan será levado para a sua terra natal, Sidi Bel Abdés, e aí ficará em câmara ardente, no ginásio. Durante os dias que demoram as homenagens fúnebres, suspende-se a guerra entre os resistentes argelinos e as forças de ocupação francesas. Um pouco à semelhança do que acontecia nos Jogos Olímpicos clássicos.
Edith Piaf, destroçada, acabará por dedicar-se ao espiritismo, na tentativa desesperada de voltar a ouvir a voz do seu amado. De Ginette Neveu, diz-se que estava abraçada ao violino que António Stradivari construíra mais de dois séculos antes. E que acabei de ouvir em concertos de Brahms e de Sibelius.
Daniel de Sá

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