Daniel de Sá
27 de Maio de 2013 – Biblioteca do Liceu Antero de Quental
Hoje, a ilha ficou abatida pela notícia da morte de um dos seus escritores. Porque é assim. Há muito que é assim. Morre um homem, sofrem os que o amam. Morre um escritor, um Poeta…, sofrem os que o amaram como homem; e os que o adoraram como artista; e os que o admiraram; e os que privaram com ele.
E o mundo fica, inevitavelmente, mais pobre. Porque o que ele poderia vir a criar já não será criado. Outros virão, mas já não é aquele, assim, naquela sua forma única de criar. Porque cada artista é único na gestação da sua arte. Por muitas influências que receba. Por muito que faça lembrar outro nisto ou naquilo, no essencial não faz lembrar ninguém. E por isso a sua morte empobrece o mundo – o nosso, íntimo, pequenino, e o outro, que é de todos.
Há pouco mais de um ano, liguei ao Daniel a fazer-lhe um pedido. Íamos organizar, precisamente neste espaço, uma pequena homenagem a meu Pai, por altura do seu aniversário, a 18 de Fevereiro. E tinha gosto que ele viesse falar aos alunos, juntamente com o Vamberto e o Manuel Urbano, neste Liceu que foi tão do Fernando Aires e da sua geração.
Disse-me que raramente se deslocava a Ponta Delgada, mas que esse era um motivo mais do que forte para fazê-lo. Que tinha muito gosto em vir falar do seu “grande amigo – nas letras e na vida”. E veio. E comoveu-me que tivesse atendido ao meu pedido. Porque sei que, de certa forma, essa vinda lhe alterava muito as suas rotinas.
Mas veio e valeu tanto a pena que tivesse vindo! Os três amigos, em tertúlia, encheram esta Biblioteca, e o coração dos adolescentes que cá vieram, de vozes carregadas de sentidos. Falaram da vida, da escrita e da experiência fantástica que é gerar vida através da escrita. E nessa partilha, meu pai surgiu aqui entre eles, como tantas vezes acontecera noutros espaços que não este.
Obrigada, Daniel, pelas palavras ditas naquele dia e por todas as que escreveu, em tantos outros dias.
Maria João Ruivo